Não é a primeira vez que o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, se vê envolvido em polémicas. Há exatamente um mês, o britânico 'sobreviveu' a uma moção de censura interna que foi imposta pelos deputados do Partido Conservador devido às festas em Downing Street em pleno confinamento.
Volvido exatamente um mês do chumbo da moção de censura, Boris vê o seu governo envolvido num novo escândalo. Chris Pincher foi notícia nos últimos dias no Reino Unido após ter sido forçado a renunciar ao parlamento - onde assumia funções de responsabilidade na bancada dos conservadores - na sequência de queixas sobre assédio a dois homens num clube de festas privado.
Quem é Pincher, o homem no centro do escândalo?
Aos 52 anos, Christopher era conhecido por ser o 'homem leal' do primeiro-ministro britânico. Construiu a sua carreira política em torno do Partido Conservador no qual ingressou em 1987.
Em 2010, foi eleito deputado pelo distrito eleitoral de Tamworth e tinha fama de saber como persuadir os membros mais hostis do seu partido a votar a favor de propostas do governo.
Há quem aponte Pincher como o responsável pela sobrevivência do governo de Boris após as polémicas e duras críticas dos últimos meses onde o afamado 'partygate' se destaca.
Em 2017, obteve um cargo honorário na Casa Real Britânica (uma espécie de auditor não oficial), mas teve que renunciar devido às primeiras acusações de comportamento inadequado que recebeu.
Este comportamento inadequado, sabe-se agora, não será coisa recente, havendo suspeitas de que dure há pelo menos uma década.
Após a renúncia devido às primeiras acusações, passou a trabalhar nas Relações Externas, no sentido de estar numa posição mais discreta. Ainda assim, até aí houve uma reclamação de assédio.
Em 2019, com a chegada de Boris Johnson ao poder, Pincher sobe ao governo onde, desde então, ocupou as pastas de Habitação e Relações Externas com a Europa e América.
As acusações de toques indevidos e o pedido de desculpas
Apesar das suspeitas de comportamento inadequado não serem novidade, as acusações que colocam Pincher debaixo de fogo - e Boris por consequência -, dizem respeito ao toque inapropriado a dois homens.
Os factos ocorreram durante uma festa no Carlton Club, em Londres, na qual deputados e simpatizantes tiveram um encontro com uma associação conservadora cipriota.
O pedido de desculpas não tardou, tendo o 'homem leal' de Boris enviado uma carta ao primeiro-ministro explicando o que tinha ocorrido. "Caro primeiro-ministro, ontem à noite bebi excessivamente. Envergonhei-me a mim e aos outros, e isso é a última coisa que quero fazer. Peço desculpas a si e a todos os envolvidos", terá sido o conteúdo da nota enviada a Johnson.
Na segunda-feira, dia 4 de julho, foram divulgadas pela imprensa britânica seis novas acusações de comportamento impróprio do ex-deputado do Partido Conservador Chris Pincher, dias depois de ter sido suspenso pelo partido por ter "apalpado" dois homens.
Tal como já referido, este comportamento não é propriamente novidade. Em 2017, foi acusado de fazer investidas sexuais a um atleta olímpico e potencial candidato conservador nas eleições, segundo relatou o jornal espanhol El País.
Boris apoiou Pincher, mas rapidamente se arrependeu
Perante toda a polémica, e numa primeira instância, Boris não condenou Pincher e assumiu - através de comunicado de um porta-voz - que estava a par destes ditos comportamentos inapropriados, tendo inclusive dado um voto de confiança ao deputado por não haver acusações e se tratarem de "especulações".
Rapidamente se arrependeu e pediu desculpa por ter apoiado Pincher. Boris insistiu, no entanto, que, na qualidade de primeiro-ministro, deve apenas continuar a servir a população britânica.
A queda de três ministros e uma possível moção de censura
A polémica levou a uma debandada no governo britânico. Ontem, terça-feira, o ministro das Finanças, Rishi Sunak, e o ministro da Saúde, Sajid Javid, anunciaram a demissão, após Boris Johnson ter pedido desculpa por ter nomeado Pincher para o governo. Na origem da decisão, assumiram, estava a falta de confiança no executivo.
Já hoje, quarta-feira, o ministro para as Crianças e Família, Will Quince, juntou-se ao elenco demissionário. Laura Trott, deputada do Partido Conservador, também renunciou ao cargo de secretária particular parlamentar no Departamento de Transportes.
Toda a situação poderá levar os conservadores contra Boris a moverem uma segunda moção de censura. Os 'rebeldes' do partido querem mudar as regras do Comité de 1922 - que reúne os deputados do partido sem pasta - para poder convocar esta moção uma vez que, de acordo com as regras atuais desse comité, Johnson não pode enfrentar outra moção de censura no espaço de 12 meses após a primeira.
Quanto a Boris, o líder do executivo nega a demissão na sequência deste caso que abala, mais uma vez, o seu governo.
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