"Quero aqui sublinhar o empenho do secretário-geral das Nações Unidas [António Guterres] e também a diplomacia turca tem estado muito envolvida. Acredito que ao longo dos próximos dias possamos ter boas notícias, mas até o último momento, até tudo estar decidido, nada está decidido", afirmou João Gomes Cravinho, falando aos jornalistas portugueses em Bruxelas, no final de um Conselho de Negócios Estrangeiros.
Com a Ucrânia a dominar novamente a agenda da reunião dos chefes da diplomacia europeia, numa altura em que milhões de toneladas de cereais estão retiros pela Rússia nos portos da Ucrânia e dias antes de Kiev e Moscovo se voltarem a sentar à mesa para discutir esta questão, o ministro português vincou que "a UE tudo deve fazer para apoiar uma solução para os corredores solidários [...] em relação ao escoamento de produtos agrícolas da Ucrânia".
A posição surge numa altura de confronto armado na Ucrânia devido à invasão russa e de bloqueio das exportações nos portos ucranianos, tensões geopolíticas que estão a afetar cadeias de abastecimento, causando receios de rutura de 'stocks' e de crise alimentar.
No início de junho, a Comissão Europeia lançou uma plataforma para ligar empresas e ativar corredores solidários para facilitar as exportações de alimentos da Ucrânia, numa altura em que a Rússia é acusada de bloquear toneladas de cereais nos portos ucranianos.
Tanto a Ucrânia como a Rússia são importantes fornecedores dos mercados mundiais, especialmente de cereais e óleos vegetais, como trigo, cevada e milho, sendo que Kiev é também responsável por mais de 50 por cento do comércio mundial de óleo de girassol e um importante fornecedor de ração para a UE.
Estima-se que milhões de toneladas de trigo estejam retidas na Ucrânia, sendo que a exportação habitual ucraniana neste setor era de cinco milhões de toneladas de trigo por mês.
Hoje mesmo, o Alto Representante da UE para a Política Externa e de Segurança, Josep Borrell, disse hoje esperar um acordo esta semana para desbloquear as exportações ucranianas de cereais, falando numa "questão de vida ou de morte".
"A vida de milhares - mais de milhares, dezenas de milhares de pessoas - depende deste acordo e, portanto, não é um jogo diplomático, é uma questão de vida ou morte para muitos seres humanos. E a questão é que a Rússia tem de desbloquear e permitir que os cereais ucranianos sejam exportados", adiantou Josep Borrell.
Segundo a Comissão Europeia, não existe uma ameaça imediata à segurança alimentar no espaço comunitário, uma vez que a UE é um grande produtor e um exportador líquido de cereais.
Ainda assim, Bruxelas reconhece o impacto imediato relacionado com o aumento dos custos ao longo de toda a cadeia de abastecimento alimentar, pela rutura dos fluxos comerciais de e para a Ucrânia e Rússia, bem como as consequências na segurança alimentar global.
Para a vizinhança da UE, no norte de África e no Médio Oriente, tanto a disponibilidade como a acessibilidade de preços estão em risco no que toca ao trigo, o alimento básico, o que também acontece na Ásia e na África subsaariana.
O norte de África e o Médio Oriente importam mais de 50% das suas necessidades de cereais da Ucrânia e da Rússia.
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