Adalberto da Costa Júnior, que marcou hoje o arranque da campanha eleitoral em Benguela, chegou ao local do comício perto das 15:00 após ter percorrido a pé cerca de 5 quilómetros, ladeado dos nº2 e nº3 das listas da UNITA, Abel Chivukuvuku e Justino Pinto de Andrade, respetivamente, uma comitiva que foi acompanhado por milhares de pessoas.
Cantando e entoando "gatunos fora" e "MPLA caiu", os militantes e simpatizantes da UNITA seguiram os três políticos numa caminhada festiva, em tons de verde e vermelho -- as cores da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) -, que encheu as ruas de Benguela com uma enorme massa humana e terminou no campo adjacente ao aeroporto.
Numa intervenção com mais de uma hora, Adalberto da Costa Júnior recordou o fundador da UNITA, Jonas Savimbi, e o seu sonho de realizar a pátria angolana, mas destacou que este era também um projeto de Holden Roberto, fundador da FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola), e do primeiro presidente de Angola, Agostinho Neto, do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), partido que governa o país desde a independência.
"Três pais da nação" que, sublinhou, "pensaram numa Angola para os seus filhos, uma Angola de dignidade, de riquezas e de oportunidades", prometendo resgatar os ideais que "foram esquecidos e perdidos", assumindo a "missão de realizar a pátria mãe de todos os angolanos".
No discurso repetiu as críticas à comunicação social angolana pública devido à parcialidade na cobertura eleitoral, salientando que "há um partido que teve transmissão direta dos seus comícios", ao contrário dos outros partidos que também marcaram ato para hoje.
"Esperei que não houvesse mais diferenciação com o início da campanha, mas afinal enganei-me, afinal há partidos que são mais do que outros?", questionou o dirigente do "Galo Negro".
Vincando os apelos à alternância, o presidente da UNITA disse que "já não é tempo de promessas, é tempo de balanços", tendo em conta que o país é independente há 47 anos, e lamentou a degradação do estado democrático e de direito e a diminuição das liberdades, nos últimos cinco anos, coincidindo com o mandato de João Lourenço, que se recandidata ao cargo.
O líder da UNITA apontou também os "parentes e amigos mortos" que estão na lista para votar, avisando que o partido está atento e estimando que há mais de 2,5 milhões de pessoas falecidas que constam como eleitores.
"Desde 1996 que não se faz a depuração dos mortos nas listas. Querem enganar quem? Vão aceitar ir as eleições com essas listas?", perguntou Adalberto da Costa Júnior, pedindo aos milhares de militantes e simpatizantes que hoje assistiram ao comício que ajudem nesta verificação e tomem conta da segurança do voto, "organizadamente".
Frisando a necessidade "de um país diferente com uma liderança comprometida em servir o país", Adalberto da Costa Júnior ironizou com a construção da Basílica da Muxima, anunciada esta semana pelo presidente angolano, que acusou de estar a tentar "comprar" a igreja.
Alertou ainda para o facto de o governo estar em gestão, uma vez que, com o início da campanha eleitoral para as eleições marcadas para 24 de agosto, o Presidente angolano "não pode assinar nada", nem fazer "os contratos simplificados que financiam o seu partido".
Apontou também a necessidade de assegurar que a campanha decorre em ambiente pacífico, de tolerância e de harmonia, insistindo em que se ignorem as provocações.
"Onde te provocarem, vai embora, onde virem uma emboscada, vai embora, não é atitude de cobardia, é de inteligência", salientou o dirigente durante a intervenção, onde insistiu nos apelos do não à violência.
Adalberto da Costa Júnior repetiu as ideias de que vai "governar para todos, os que votaram e não votaram", saudando na reta final do discurso "todos os partidos e lideranças" que entram agora em campanha eleitoral, deixando o convite à realização de debates entre todos os candidatos, que considerou um dever.
"Os cobardes fogem, vamos punir os cobardes, não estão à altura do seu povo maravilhoso. Nós não temos medo, nós estamos seguros do apoio do povo", disse Adalberto da Costa Júnior, que foi aplaudido com entusiasmo.
Os sete partidos e a coligação que se candidatam às próximas eleições gerais realizaram hoje comícios e atos políticos para marcar o arranque da campanha eleitoral, em diferentes pontos do país.
Além da UNITA, em Benguela, o MPLA realizou o seu comício em Luanda, a coligação CASA-CE, terceira força política do país, no Cuanza Norte, o PRS na Lunda Norte, o P-NJANGO no Huambo, o Partido Humanista de Angola no Namibe e a FNLA em Luanda.
Este será o quinto sufrágio em Angola, depois dos de 1992, 2008, 2012 e 2017, em que o MPLA foi vencedor.
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