No início de abril, um carro com civis que tinha partido de Melitopol passou por um posto de controlo russo na cidade ocupada de Vasylivka, em Zaporizhzhia, momento em que um soldado russo se aproximou do veículo e viu um rapaz adolescente a verificar algo no telemóvel.
"O que estás a fazer, a filmar-me?" perguntou o soldado antes de lhe retirar o telemóvel e puxá-lo para fora do carro. "Devo alvejá-lo agora mesmo ou esmagar-lhe o telefone?", gritou, enquanto apontava uma arma ao rapaz.
O homem arrastou o adolescente para um quintal próximo, onde as tropas russas estavam baseadas, deixando os que estavam no carro sem palavras e aterrorizados.
Após uma hora de verificação da sua identidade, os soldados russos perceberam que era Vladyslav Buryak, filho de um dos mais altos funcionários ucranianos da região, Oleh Buryak, chefe da Administração Estatal do Distrito de Zaporizhzhia.
Nos 90 dias seguintes, o adolescente de 16 anos, esteve preso num cativeiro russo, segundo o jornal The Kyiv Independent, trancado numa pequena cela, onde ouvia os gritos dos prisioneiros de guerra ucranianos ao serem torturados por soldados russos. Assistiu à morte de alguns deles após horas de tortura e foi forçado a limpar o local inundado de sangue.
"Cada minuto foi um desafio muito sério porque cada minuto podia ter sido o meu último", disse o rapaz durante uma entrevista ao lado do pai.
Vladyslav Buryak com o pai Oleh Buryak© Reprodução redes sociais
Vladyslav não é o único menor ucraniano que passou muito tempo em cativeiro russo desde que a guerra da Rússia começou a 24 de fevereiro: segundo o governador de Zaporizhzhia Oleksandr Starukh, os russos mantiveram em cativeiro cinco menores nesta cidade, dois deles a partir do final de julho.
Um total de 203 crianças foram registadas como desaparecidas na Ucrânia a partir do início de agosto, sendo que a maior parte desapareceu nos focos de guerra. Os dados oficiais apontam que a invasão Rússia matou pelo menos 358 crianças até ao dia 4 de agosto, calculando-se que os números sejam mais elevados, uma vez que não incluem baixas nos territórios ocupados pela Rússia e nas áreas onde as hostilidades estão em curso.
Entre todas as atrocidades da Rússia contra crianças ucranianas, a história de Buryak tem um final feliz: a 7 de julho foi libertado.
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