"Esta cimeira irá abordar, entre outros assuntos, questões políticas e da paz e segurança, assim como económicas e sociais, no quadro do reforço da integração regional, mobilizando esforços coletivos para fazer face aos múltiplos desafios com que a SADC [Comunidade de Desenvolvimento da África Austral] e os seus Estados-membros se confrontam", indica uma nota da Presidência em Maputo, confirmando a presença do chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, na cimeira que vai decorrer em Kinshasa, capital da República Democrática do Congo (RDCongo).
Um dos principais desafios atuais da organização sub-regional está ligado à violência armada na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, onde forças dos países-membros da organização têm estado, desde 2021, a apoiar o exército moçambicano no combate contra uma insurgência armada que começou em 2017.
Embora a cimeira esteja subordinada ao lema da "Promoção da Industrialização", entre os principais pontos de agenda destaca-se a "apreciação e consideração" do relatório abrangente da Missão Militar da SADC (SAMIM, sigla em inglês), que tem estado a apoiar as forças moçambicanas no combate contra rebeldes no norte do país, bem como os prazos da sua permanência no país.
No mês passado, a SADC decidiu prorrogar provisoriamente a sua missão militar em Cabo Delgado além de 15 de julho durante uma cimeira extraordinária da "troika" dos chefes de Estado e de Governo da organização.
Na ocasião, ficou decidido que o alargamento provisório do destacamento das tropas da África Austral duraria até à "apreciação e consideração do relatório abrangente da SAMIM pela cimeira ordinária dos chefes de Estado e de Governo da SADC, agendada para 17 e 18 de agosto de 2022, na República Democrática do Congo".
A SADC assinalou que o destacamento da força alcançou "conquistas e marcos significativos" no combate ao "terrorismo".
A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
Há cerca de 800 mil deslocados internos devido ao conflito, de acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.
Desde julho de 2021, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) permitiu recuperar zonas onde havia presença de rebeldes, mas a fuga destes tem provocado novos ataques noutros distritos usados como passagem ou refúgio.
Outro tema que deverá ser abordado durante a cimeira é a mediação de Angola da tensão entre o Ruanda e a RDCongo, que cresceu exponencialmente nos últimos meses, após o reinício em março dos combates entre o exército e o movimento rebelde 23 de Março (M23), que, segundo Kinshasa, é apoiado pelo país vizinho, uma acusação negada por Kigali.
No mês passado, o Presidente de Angola, João Lourenço, informou o seu homólogo sul-africano, Cyril Ramaphosa, sobre o processo de mediação de normalização das relações entre a República Democrática do Congo (RDCongo) e o Ruanda, nomeadamente a realização, em Luanda, da reunião da Comissão Mista Permanente Ruanda-República Democrática do Congo, que não se realizava há dez anos.
O líder sul-africano "manifestou o interesse de ter na próxima cimeira da SADC uma informação detalhada sobre o processo de mediação que Angola levada a cabo a favor do entendimento" entre Kinshasa e Kigali.
Durante a cimeira, de dois dias, o chefe de Estado do Maláui, Lazarus Chakwera, vai simbolicamente passar a presidência da SADC para Felix Tshisekedi, Presidente da República Democrática do Congo.
Integram a SADC, além dos lusófonos Angola e Moçambique, também Botsuana, Comoros, RDCongo, Essuatíni, Lesoto, Madagáscar, Maláui, Namíbia, Seicheles, África do Sul, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabué.
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