EUA. Maior ONG sobre direito ao aborto investe 50 milhões nas 'Midterms'

O tema tornou-se num dos maiores destaques das próximas eleições intercalares, depois da revogação do processo 'Roe v. Wade'.

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Hélio Carvalho
17/08/2022 16:32 ‧ 17/08/2022 por Hélio Carvalho

Mundo

Direito ao aborto

A Planned Parenthood, a maior organização não-governamental (ONG) de proteção do direito ao aborto nos Estados Unidos anunciou, esta quarta-feira, que vai investir cerca de 50 milhões de dólares em candidatos e campanhas nas próximas eleições intercalares (ou 'Midterms'), com o objetivo de apoiar a eleição de candidatos que protejam o direito federal perdido.

O investimento é o maior da organização em qualquer eleição, ultrapassando os 45 milhões investidos em 2020 (sendo que essas eleições incluíram uma eleição presidencial).

Em comunicado, a Planned Parenthood fundamenta que o programa procura "eleger campeões pelos direitos de saúde sexual e de saúde reprodutiva, incluindo o aborto, por todos os boletins do país". "Os investimentos estratégicos focar-se-ão nos estados preparados para banir ou expandir cuidados de saúde sexual e reprodutiva", acrescenta.

A decisão do grupo surge depois de meses em que o direito do aborto tornou-se um tema de destaque para as próximas 'Midterms', nas quais a configuração das Câmaras de Representantes e Senados, tanto ao nível estatal como nacional, estará em jogo. O aborto passou a ser um tópico ainda mais preponderante na corrida eleitoral, depois de o Supremo Tribunal ter revogado em julho o histórico processo 'Roe v. Wade', que decretou o aborto como um direito a nível nacional.

Desde a revogação do processo pelo Supremo, vários estados conservadores, controlados pelo Partido Republicano, passaram a banir ou a restringir gravemente o acesso à interrupção voluntária da gravidez (IVG).

Agora, o volume de donativos a clínicas de saúde reprodutiva e a organizações que apoiam pessoas que precisem de uma IVG, mesmo em estados onde a prática é agora proibida, aumentou consideravelmente. E a Planned Parenthood planeia apontar o dedo diretamente a estes estados mais conservadores que, no que diz respeito ao aborto, poderão não ser tão conservadores quanto isso - isto porque, apesar das várias divergências entre democratas e republicanos, uma esmagadora maioria dos norte-americanos acredita que o direito ao aborto deve ser legal ou, pelo menos, não deve ser criminalizado.

Segundo a Associated Press, citando uma sondagem para a agência de notícias, a maioria dos norte-americanos acha que o Congresso deve aprovar uma lei que garante a legalidade do aborto a nível nacional (algo que os democratas não conseguiram fazer, e que protegeria o aborto de qualquer limite imposto pelo Supremo Tribunal). E noutra sondagem, da USA Today, o aborto é o segundo tema mais importante na lista de tópicos que influenciará os eleitores para votar em novembro, atrás apenas do tema geral da economia.

A diretora executiva da organização, Jenny Lawson, escreve no comunicado que "esta eleição é sobre poder e controlo", e deixou uma mensagem de aviso para os eleitores que votarem em candidatos antiaborto.

"Se estes políticos antiquados ficarem ou ganharem poder, eles vão continuar a fazer tudo o que puderem para banir o aborto, prender fornecedores de serviços de saúde e pessoas grávidas, e colocar em risco a vida de pessoas grávidas por todo o país. Isto não é o que o povo norte-americano quer. Em novembro, os eleitores vão tomar o controlo, elegendo campões dos direitos reprodutivos, que confiam em nós para tomar as nossas próprias decisões sobre os nossos corpos, as nossas vidas e os nossos futuros", afirmou.

Há um bom prenúncio para as ONG dos direitos reprodutivos: este mês, o estado tipicamente conservador do Kansas rejeitou claramente uma emenda constitucional, que permitiria que o estado pudesse banir o direito ao aborto.

A Planned Parenthood avisou que iria investir principalmente em estados conservadores, nomeadamente no Arizona, Geórgia, Michigan, Minnesota, Nevada, New Hampshire, Carolina do Norte, Pensilvânia e Wisconsin.

A reversão do 'Roe v. Wade' é considerado, pelos democratas, como um dos mais duros golpes aos direitos das mulheres norte-americanas em quase 50 anos. Em cerca de metade dos estados, onde a liderança é republicana e conservadora, como o Texas ou o Oklahoma, foram sendo aprovadas leis e medidas que proíbem quase completamente a interrupção voluntária da gravidez - o estado do Indiana tornou-se no primeiro a proibir todos os abortos, tirando em casos de violação ou de risco de vida para a mãe.

De notar que a decisão não torna o aborto ilegal: 'apenas' deixa de o considerar um direito constitucional, o que permite que os estados conservadores o possam proibir.

A divulgação do rascunho, em maio, foi acolhida com surpresa pelo eleitorado norte-americano e pela comunidade internacional, que acusou os Estados Unidos de retrocederem civilizacionalmente numa questão praticamente encerrada para o público. Várias sondagens demonstraram que uma larga maioria da população é a favor do aborto, e sete em cada dez norte-americanos acredita que a decisão de abortar é unicamente da mulher.

Leia Também: Aborto/EUA. Apps de saúde reprodutiva não garantem sigilo de utilizadores

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