Etiópia. Declarações do diretor da OMS sobre Tigray são "pouco éticas"
O Governo etíope acusou hoje o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS) de usar a sua posição para atrair apoio do "norte global" para os rebeldes do Tigray, considerando "pouco éticas" as suas declarações sobre o conflito.
© FABRICE COFFRINI/AFP via Getty Images
Mundo Tigray
Tedros Adhanom Ghebreyesus, de etnia Tigray, descreveu na quarta-feira o conflito naquela região etíope como "o pior desastre na Terra".
O responsável da OMS afirmou que os seis milhões de habitantes de Tigray estão essencialmente "sitiados" há 21 meses e questionou-se se será devido à "cor da pele" deste povo que a comunidade internacional não intervém.
Hoje, a porta-voz do primeiro-ministro etíope disse que as declarações do dirigente da OMS são "impróprias de uma posição tão importante".
"Esse comentário foi só um de entre os muitos comentários pouco éticos do diretor-geral da OMS. Não é de estranhar", disse Billene Seyoum numa conferência de imprensa em Adis Abeba.
Segundo a porta-voz, as organizações humanitárias enviaram enormes quantidades de alimentos e outros produtos para a região de Tigray desde março, quando as autoridades declararam uma "trégua humanitária indefinida".
O conflito no Tigray começou no início de novembro de 2020 quando o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, enviou o exército federal, apoiado por forças regionais de Amhara e do exército da Eritreia, para desalojar as autoridades rebeldes da região, a Frente de Libertação do Povo Tigray (TPLF, na sigla em inglês).
Inicialmente derrotada, a TPLF recuperou o controlo da região no decurso de 2021.
Os combates quase cessaram desde uma trégua em março, mas a situação humanitária continua catastrófica naquela região do norte da Etiópia, aonde pouca ajuda humanitária tem chegado.
Alguma ajuda tem vindo a fluir nos últimos meses, mas é descrita como desadequada para suprir as necessidades dos milhões de pessoas ali presas.
Segundo a ONU, cerca de 9,4 milhões de pessoas precisam de ajuda humanitária em Tigray, bem como nas regiões vizinhas de Amhara e Afar, como resultado do conflito.
Hoje, Billene Seyoum assegurou que o governo etíope está preparado para restabelecer "sem condições prévias" o funcionamento dos serviços básicos no Tigray, embora acusando a TPLF de dificultar esses esforços.
Segundo a porta-voz, a TPLF continua a obter armas, recrutar jovens à força e roubar materiais humanitários que chegam à região para usar em benefício próprio.
"No entanto, o governo mantém os seus apelos à paz, apesar do desinteresse da TPLF", acrescentou a porta-voz, que assegurou que Adis Abeba está preparada para iniciar as negociações de paz "nas próximas semanas".
Esta não foi a primeira vez que o líder da OMS falou sobre Tigray.
No início do ano, o Governo da Etiópia enviou uma carta para a OMS a acusar Tedros de "má conduta" após as suas críticas à guerra e à crise humanitária no país.
Adis Abeba disse que Tedros usa o seu cargo para "promover seu interesse político às custas da Etiópia" e acusou-o de continuar a ser um membro ativo da TPLF.
Tedros era ministro dos Negócios Estrangeiros e ministro da Saúde da Etiópia quando a TPLF dominava a coligação governante do país.
Quando Tedros foi confirmado para um segundo mandato à frente da OMS, foi a primeira vez que o país de origem de um candidato não apoiou o seu próprio candidato.
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