Coroação de novo monarca zulu na África do Sul sob polémica
A coroação do novo rei dos AmaZulu, maior grupo étnico sul-africano com mais de 12 milhões súbitos, enfrenta nova polémica após mais uma contestação à sucessão e um parecer judicial sobre a legitimidade do testamento do defunto monarca.
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Mundo África do Sul
O Supremo Tribunal de Apelação da África do Sul (SCA, na sigla em inglês) autorizou hoje a monarca zulu Sibongile Dlamini-Zulu, e as suas duas filhas, a recorrerem do indeferimento da sua contestação judicial do testamento do rei Goodwill Zwelithini kaBhekuzulu, que morreu no ano passado no hospital.
O tribunal decidiu ainda que os litígios em curso na Justiça sul-africana não impedem a ascensão do novo rei Misuzulu kaZwelithini ao trono, no sábado, segundo a imprensa local.
Em março, o Tribunal Superior em Pietermaritzburg, capital da província de KwaZulu-Natal, sudeste do país, indeferiu o processo apresentado por Dlamini-Zulu que pretendia contestar o testamento do seu marido, exigindo metade da fortuna do monarca.
As filhas, as princesas Ntandoyenkosi Zulu e Ntombizosuthu Zulu-Duma, alegaram também que o testamento do monarca era "falso".
No testamento, Goodwill Zwelithini kaBhekuzulu nomeou como regente do reino a sua terceira mulher, Shiyiwe Mantfombi Dlamini Zulu, de 65 anos, que morreu cerca de um mês depois da morte do seu marido, em 12 de março de 2021, com 72 anos, nomeando em testamento o seu filho mais velho, MisuZulu kaZwelithini, como sucessor.
A rainha Mantfombi Dlamini Zulu, filha do defunto rei Sobhuza II e irmã do rei Mswati III do reino de Essuatíni (antiga Suazilândia), casou com o rei Goodwill Zwelithini, em 1977, passando a ser a terceira mulher do monarca, tendo sete filhos.
Mantfombi Dlamini-Zulu gozava de estatuto elevado entre as seis mulheres do monarca Zulu por ser descendente da casa real do reino de Eswatini, considerada a última monarquia absoluta no continente.
Todavia, a nomeação de MisuZulu kaZwelithini tem sido contestada por alguns membros da família real Zulu, o maior grupo étnico na África do Sul com mais de 12 milhões de súbitos, que habitam maioritariamente a província de KwaZulu-Natal, sudeste do país.
MisuZulu deverá ser coroado oficialmente como rei e novo líder da nação zulu no sábado, ao submeter-se a um ritual tradicional, conhecido localmente como Ukungena Esibayeni (entrada no curral).
Nesse sentido, o novo monarca liderou na quinta-feira uma caçada real a um leão numa reserva animal privada, sendo que irá vestir a pele do leão caçado durante a cerimónia de coroação.
O evento deverá contar com a participação de milhares de zulus, incluindo membros da família real, líderes tradicionais de outros grupos étnicos no país e membros da nação zulu, reconhecida historicamente pela resistência ao colonialismo britânico no reinado do monarca Shaka kaSenzangakhona, também conhecido por Shaka Zulu, entre 1816 e 1828.
Todavia, alguns dos 28 filhos que o rei Goodwill Zwelithini teria tido com as suas seis mulheres, reivindicam a sucessão ao trono.
Na semana passada, alguns membros da fação da família rival realizaram também o ritual Ukungena Esibayeni no Palácio Real de Enyokeni, proclamando o príncipe Simakade Zulu kaZwelithini como o sucessor do trono, não tendo sido reconhecida pelos anciãos da família real que apoia MisuZulu como sendo o monarca legítimo.
Na quinta-feira, os três irmãos do defunto rei Zwelithini, incluindo o príncipe Mbonisi, anunciaram em conferência de imprensa em Joanesburgo o nome do príncipe Buzabazi kaZwelithini, terceiro filho do monarca Zwelithini, como herdeiro legítimo ao trono.
O Governo sul-africano reconhece Misuzulu como o legítimo herdeiro do trono, devendo conceder-lhe um certificado de reconhecimento em data ainda por anunciar, segundo as autoridades sul-africanas.
Além da preservação histórica da cultura do povo zulu, o KwaZulu-Natal é também o "bastião" do Congresso Nacional Africano (ANC), partido no poder na África do Sul desde 1994.
Durante os 53 anos de reinado, o rei Goodwill Zwelithini (1968-2021) consolidou o controlo de um vasto território estimado em 30% da província do KwaZulu-Natal, através do Ingonyama Trust, do qual era o único administrador.
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