Ataques extremistas na África Ocidental são só a "ponta do icebergue"

Analistas do Instituto de Estudos de Segurança (ISS, na sigla inglesa) alertam que crescentes ataques extremistas nos países costeiros da África Ocidental são apenas a ponta do icebergue de uma rede que garante a continuidade do terrorismo na região.

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Lusa
28/08/2022 08:19 ‧ 28/08/2022 por Lusa

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"Os países costeiros têm de ver estes ataques como apenas a ponta do icebergue, em que, por baixo, há um número de vulnerabilidades que têm de compreender e abordar antes que seja tarde de mais", disse à Lusa a investigadora Jeannine Ella Abatan, do gabinete do ISS para a África Ocidental, Sahel e Bacia do Lago Chade.

O extremismo violento, que atormenta o Sahel há quase uma década, avançou para sul e ameaça cada vez mais os países costeiros da África Ocidental, como a Costa do Marfim, Gana, Togo e Benim.

A Costa do Marfim sofreu 17 ataques ligados a grupos filiados na Al-Qaida desde 2020, o Benim já foi alvo de 21 ataques este ano, dois dos quais reivindicados pelo grupo Jamanta Nusrat al-Islam wal-Muslimeen (JNIM), filiado na Al-Qaida, e o Togo perdeu oito soldados num ataque reclamado pelo mesmo grupo.

O Gana, o único dos quatro países costeiros que ainda não sofreu qualquer ataque, tem visto os seus jovens serem recrutados para grupos extremistas e as autoridades dizem ter já prevenido ataques.

Apesar de se ter tornado mais visível nos últimos anos, a ameaça terrorista vem de trás e em março de 2016 um ataque na estância balnear de Grand Bassam, na Costa do Marfim, provocou 19 mortos e 33 feridos, o que já então "mostrava a capacidade do extremismo violento de operar longe da sua base operacional", disse Abatan.

Uma investigação realizada pelo ISS na região de Liptako-Gourma, a zona triangular onde o Mali, o Burkina Faso e o Níger se unem, mostrava que já em 2019, ou seja ainda antes da recente onda de ataques, os grupos extremistas violentos usavam os Estados litorais como fonte de recrutamento, de logística operacional e até de financiamento, contou Abatan.

"Por isso para nós é muito importante que os Estados costeiros vejam estes ataques como apenas a ponta do icebergue e que tentem compreender todas as vulnerabilidades que estes grupos extremistas vêm usando há já algum tempo", disse.

Abatan lembrou que, embora se associe muitas vezes o extremismo violento à religião, a investigação do ISS concluiu que a religião normalmente não tem um papel importante na decisão das pessoas que se envolvem com estes grupos, havendo mais frequentemente motivações locais.

Entre as causas profundas do extremismo, a investigadora identifica conflitos pré-existentes, nomeadamente por recursos ou por terra, ou conflitos entre agricultores e pastores.

E identifica sobretudo as frustrações das comunidades, especialmente aquelas que se sentem abandonadas pelo Estado.

"Uma coisa é certa, para as pessoas que chamamos os 'soldados rasos', a motivação para se juntarem a estes grupos é mesmo local, baseada na sua realidade diária -- as pessoas juntam-se para obterem proteção, justiça ou vingança", exemplificou.

Por isso o ISS defende que a estratégia para combater o extremismo deve centrar-se nas comunidades, que devem ser envolvidas de forma permanente e sentir-se apoiadas pelo Estado.

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