Portugal aproveitará para preparar candidatura ao Conselho de Segurança

Portugal intensificará os encontros bilaterais com vários países durante a 77.ª sessão da Assembleia-Geral da ONU visando preparar a candidatura ao Conselho de Segurança, cujas eleições acontecerão em 2026, disse à Lusa a representante permanente portuguesa junto da organização.

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Lusa
13/09/2022 08:33 ‧ 13/09/2022 por Lusa

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A embaixadora de Portugal junto das Nações Unidas, Ana Paula Zacarias, afirmou que o chefe da diplomacia portuguesa, João Gomes Cravinho, estará em Nova Iorque este mês para participar na Assembleia-Geral (AG) da ONU, onde aproveitará para intensificar os contactos com outras delegações.

"O ministro dos Negócios Estrangeiros terá muitos encontros bilaterais com países com quem falámos muitas vezes para encontrar formas de articulação de programas comuns que possamos fazer - com países lusófonos e outros países com quem temos menos oportunidades de encontros - e que aqui pode ser um momento interessante para fazer esse contacto, tendo até em vista também a candidatura de Portugal ao Conselho de Segurança, com as eleições em 2026", disse a diplomata em entrevista à Lusa.

Em maio passado, quando assumiu o cargo de representante permanente de Portugal junto à ONU, Ana Paula Zacarias já havia dito que o país iria "acelerar a presença" na ONU para chegar ao Conselho de Segurança.

"Neste momento, Portugal está a trabalhar ativamente na sua candidatura. As eleições terão lugar em 2026 para o biénio 2027/2028 e estamos a acelerar a nossa presença na organização, a nossa participação em vários grupos de trabalho formais e informais, nas várias agências da ONU, para mostrar a nossa capacidade de criar pontes, de fazer diálogo com todas as regiões do mundo, e a nossa posição de princípio que é muito clara na defesa dos direitos humanos e na defesa dos direitos económicos e sociais", declarou na ocasião a ex-secretária de Estado dos Assuntos Europeus.

Além do foco na campanha para um assento no Conselho de Segurança, Cravinho terá ainda em Nova Iorque vários encontros sobre temas como clima, operações de paz, direitos das minorias, coordenações ao nível da União Europeia (UE) e ao nível de NATO, entre outros, segundo a embaixadora.

"Vai haver muitos 'side events' aos quais o senhor ministro dará seguramente atenção. Aqueles a que ele não puder ir, estará também o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação [Francisco André], muito interessado seguramente em tudo o que são projetos de desenvolvimento, onde Portugal tem uma palavra a dizer, quer aqueles onde já estamos envolvidos, quer novos projetos que possam vir a surgir", indicou Ana Paula Zacarias.

A 77.ª sessão da Assembleia-Geral da ONU, que reunirá em Nova Iorque chefes de Estado e de Governo de todo o mundo, terá hoje início sob o tema "Um momento divisor de águas: soluções transformadoras para desafios interligados", sendo que o primeiro dia do Debate Geral de alto nível -- o momento em que os líderes internacionais se dirigirem ao mundo -- está previsto para 20 de setembro.

Entre as figuras políticas aguardadas nessa semana de alto nível estão o Presidente norte-americano, Joe Biden, o chefe de Estado do Brasil, Jair Bolsonaro, ou o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov.

Portugal estará representado pelo primeiro-ministro, António Costa, que se deslocará a Nova Iorque para participar na Assembleia-Geral pela segunda vez desde que é líder do executivo português.

"Teremos o senhor primeiro-ministro, que chegará no dia 19 e que, como sempre, participará na abertura da Assembleia-Geral. Depois terá muitos encontros bilaterais, que estamos ainda a programar. Terá alguns 'side events' que costumam ter sempre lugar. Este ano, há um muito importante sobre segurança alimentar e que seguramente ele participará, assim como outros que ainda estão a equacionar-se", disse a diplomata.

"Portanto, afigura-se uma semana de alto nível intensa, como sempre, sobretudo depois de dois anos marcados pela covid-19, em que esta interação pessoal foi muito diminuta e faz falta, sem dúvida. As relações internacionais precisam também que as pessoas olhem olhos nos olhos e possam, com mais clareza e com mais proximidade, trocar impressões e ideias e, sobretudo, trocar boas práticas, possibilidades de solução avançadas para alguns destes problemas que enfrentamos hoje", acrescentou Ana Paula Zacarias.

À delegação portuguesa junta-se ainda o ministro da Educação, João Costa, que participará na Cimeira da Educação Transformadora, que acontece entre 16 e 19 de setembro, e que reunirá jovens, professores, sociedade civil e outras organizações, de forma a apoiar a transformação da educação em todo o mundo, além de membros de Governos, de quem se espera uma série de Declarações Nacionais de Compromisso.

De acordo com vários analistas ouvidos pela Lusa, esta Assembleia-Geral da ONU será dominada pela guerra na Ucrânia, visão essa que é compartilhada pela diplomata portuguesa.

A guerra na Ucrânia "vai dominar [a Assembleia-Geral] porque estamos aqui perante uma situação em que há claramente um agressor e um agredido, que é uma situação que está totalmente contra a Carta das Nações Unidas e onde estão em causa os valores fundamentais pelos quais esta organização pugna. E, portanto, vamos falar aqui de democracia, de direitos humanos, de soberania dos Estados, de integridade territorial dos Estados. E vai, seguramente, ter um impacto em algumas das questões que estamos a discutir", avaliou a representante.

A Assembleia-Geral é um dos seis principais órgãos da Organização das Nações Unidas (ONU) e tem como objetivo definir as políticas da organização.

É o único em que todos os Estados-membros têm uma igual representação: um Estado, um voto. A ONU tem hoje 193 Estados-membros, um número bastante expressivo quando comparado com os 51 países que integravam a organização em 1945, ano da criação desta estrutura internacional.

Leia Também: ONU acusa talibãs de perseguição a funcionárias da organização

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