No dia seguinte ao anúncio de uma fuga no gasoduto paralelo Nord Stream 2, o gasoduto Nord Stream 1 que liga a Rússia à Alemanha foi, por sua vez, afetado por duas fugas de gás muito raras ao largo da ilha dinamarquesa de Bornholm, disseram hoje as autoridades dos dois países nórdicos.
Os dois gasodutos, operados por um consórcio do gigante russo Gazprom, não estão operacionais devido às consequências da guerra na Ucrânia. Ambos estavam ainda cheios de gás.
O Kremlin disse que estava "extremamente preocupado" e que não podia ser excluída qualquer possibilidade, incluindo a de sabotagem. A primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, disse que "é difícil imaginar que tenha sido acidental" e que a sabotagem não deveria ser "excluída".
O operador dos oleodutos, o consórcio Nord Stream, disse que não pôde ver ou avaliar os danos, mas reconheceu a natureza excecional da situação.
"Um incidente em que três tubos estão a passar por dificuldades simultaneamente no mesmo dia não é comum", disse um porta-voz à AFP.
Responsáveis militares alertam regularmente para o risco de sabotagem das instalações subaquáticas civis vitais, tais como cabos de telecomunicações, eletricidade e ligações petrolíferas.
Apesar da incerteza sobre a causa das fugas, Copenhaga colocou imediatamente a sua infraestrutura energética em alerta laranja, o segundo maior nível de vigilância.
"As fugas de gás nos gasodutos são extremamente raras e por isso vemos uma razão para aumentar o nível de vigilância após os incidentes a que assistimos nas últimas 24 horas", explicou o diretor da Agência Dinamarquesa de Energia, Kristoffer Böttzauw, prometendo "uma monitorização minuciosa das infraestruturas críticas da Dinamarca".
Medidas concretas para aumentar a segurança das plantas e instalações terão de ser postas em prática pelas empresas do setor, particularmente no que diz respeito ao acesso, vigilância e manutenção adequada das instalações.
Depois do anúncio na segunda-feira à noite pelo consórcio operacional de uma súbita queda de pressão sobre o Nord Stream 1, o ministro dinamarquês do Clima e Energia, Dan Jørgensen, e as autoridades marítimas suecas confirmaram hoje de manhã "duas outras fugas", além da que afeta o Nord Stream 2.
Os três estão localizados ao largo da ilha dinamarquesa de Bornholm, situada entre a costa sul da Suécia e da Polónia.
Construído em paralelo com o gasoduto Nord Stream 1, o gasoduto Nord Stream 2 destinava-se a duplicar a capacidade de importação de gás da Rússia para a Alemanha.
Mas a sua iminente entrada em funcionamento foi suspensa como retaliação pela invasão da Ucrânia por Moscovo.
A Gazprom reduziu gradualmente os volumes de gás entregues através do Nord Stream 1 até o mesmo ser completamente encerrado no final de agosto, culpando as sanções ocidentais por atrasarem as reparações necessárias ao gasoduto.
As autoridades alemãs ainda não reagiram, mas segundo uma fonte próxima do Governo alemão, citada pelo diário alemão Taggesspiegel, "tudo fala contra uma coincidência" e a favor de um "ataque direcionado".
A navegação foi proibida num raio de cinco milhas náuticas (cerca de nove quilómetros) perto das três fugas, bem como o sobrevoo num raio de um quilómetro.
Segundo as autoridades, os incidentes não têm consequências para a segurança ou saúde dos residentes nas ilhas vizinhas dinamarquesas de Bornholm e Christiansø.
O impacto ambiental deve ser local e limitado, de acordo com as avaliações iniciais.
Na terça-feira, a primeira-ministra dinamarquesa e os seus homólogos polacos e noruegueses inauguraram precisamente hoje o gasoduto Báltico, um gasoduto que liga a Polónia e a Noruega e que passa pela Dinamarca.
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