Em entrevista à Lusa, Goli Ameri, que além de ex-secretária de Estado Adjunta para os Assuntos Educacionais e Culturais foi também subsecretária de Diplomacia Humanitária da Federação Internacional da Cruz Vermelha, pediu que o mundo se una e empreste as suas vozes em solidariedade às mulheres iranianas.
"Isso inclui Governos de todo o mundo, organizações internacionais como as Nações Unidas (ONU), a imprensa, organizações de direitos das mulheres e direitos humanos, o setor privado e homens e mulheres em todos os lugares levantando as suas vozes por liberdade e igualdade", apelou Goli Ameri, que nasceu em Teerão, capital iraniana, e é atualmente vice-presidente do Conselho de Administração da Freedom House, organização com sede em Washington.
"Vivemos agora num mundo onde estamos todos conectados. Um movimento de massa num canto sempre terá impacto no movimento em outro. Eu entendo que no sábado passado, assim como na maioria das grandes cidades do mundo, houve protestos de apoio às mulheres iranianas em Lisboa. O povo iraniano agradece à Espanha e à Alemanha por convocar o embaixador iraniano para transmitir a 'condenação absoluta' da violência da República Islâmica contra manifestantes pacíficos. Esperamos que Portugal e outros países europeus façam o mesmo", exortou.
No passado fim de semana, cidadãos iranianos organizaram protestos em vários países, como foi o caso de Portugal, Itália, Hungria, Alemanha, Canadá, Estados Unidos da América (EUA), entre outros.
Numa entrevista também à Lusa, e a propósito dos protestos que têm abalado a República Islâmica nas últimas semanas, o embaixador do Irão em Lisboa, Morteza Damanpak Jami, acusou "algumas figuras do país e de fora dele" que estão "contra o Governo" de instigarem as manifestações.
Os protestos foram desencadeados pela morte de Mahsa Amini. A jovem curda iraniana de 22 anos foi detida pela chamada polícia da moralidade a 13 de setembro em Teerão, por "vestir roupas inadequadas", tendo morrido três dias depois num hospital quando ainda estava sob custódia policial.
Desde então, homens e mulheres do Irão saíram às ruas, cortaram os cabelos em público em forma de protesto e entoaram canções sobre liberdade.
Os protestos pacíficos têm sido fortemente reprimidos pela polícia local, o que já provocou a morte de mais de 150 pessoas, segundo denunciou a organização não-governamental (ONG) Human Rights Iran, com sede na Noruega.
Questionada sobre se os protestos podem realmente abalar o regime do Irão, Goli Ameri disse à Lusa que o Governo iraniano tem muito a perder "em termos de poder e, mais importante, de dinheiro".
"Esta não será uma luta fácil. O ministro das Relações Exteriores do Irão já está a repetir a retórica cansada de que o Irão 'não é lugar para golpes e revoluções coloridas'. Esta é uma forma abominável de marginalizar as mulheres e o povo do Irão", disse Goli Ameri, que tem dupla nacionalidade, iraniana e norte-americana, e já exerceu funções diplomáticas na ONU.
"Então, deixe-me repetir: nada - e quero dizer nada - é mais importante do que a solidariedade global, para que o regime iraniano entenda que não tem liberdade para eliminar pessoas que expressam a sua raiva e frustrações. O povo iraniano e as corajosas mulheres iranianas precisam ver que o mundo os apoia", concluiu.
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