A indignação provocada pela morte em 16 de setembro da mulher curda iraniana de 22 anos desencadeou a maior vaga de manifestações e de violência no Irão desde os protestos de 2019 contra o aumento dos preços dos combustíveis, num país rico em petróleo.
Mahsa Amini foi detida em 13 de setembro pela chamada polícia de costumes em Teerão por ter alegadamente infringido o rígido código de vestuário para as mulheres da República Islâmica, em particular o uso do véu.
Segundo a associação Iran Human Rights (IHR), com sede em Oslo, pelo menos 108 pessoas foram mortas desde o início dos protestos desencadeados pela morte da jovem mulher e que têm sido fortemente reprimidos pelas autoridades iranianas.
Por sua vez, a Amnistia Internacional lamentou a morte de pelo menos 23 menores "mortos pelas forças de segurança iranianas" e com idades entre os 11 e os 17 anos.
Dois membros das forças de segurança foram mortos por disparos na província de Fars (sul) no âmbito das manifestações, elevando para pelo menos 20 o número de mortos entre as forças da ordem desde o início da vaga de contestação, indicaram hoje os 'media' oficiais.
Apesar do bloqueio imposto pelas autoridades ao acesso à Internet e a várias aplicações móveis populares, como o Instagram e o WhatsApp, os ativistas iranianos conseguiram emitir um apelo virtual para a realização de manifestações em massa no sábado sob a palavra de ordem "O início do fim!" do regime.
Os jovens e a população iraniana foram encorajados a manifestarem-se nos locais onde não estão presentes as forças policiais e a ecoarem frases de ordem como "Morte ao ditador", numa referência ao guia supremo, o ayatollah Ali Khamenei.
Este movimento de contestação implicou ações de solidariedade no estrangeiro e sanções ocidentais dirigidas a responsáveis e instituições iranianas acusadas de envolvimento na repressão.
Teerão condenou hoje as declarações do Presidente francês, Emmanuel Macron, que na quarta-feira manifestou "admiração" pelas "mulheres" e os "jovens" que se manifestam.
"De forma clara, a França condena a repressão conduzida hoje pelo regime iraniano", disse então Macron.
Em comunicado, Nasser Kanan, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, considerou as declarações de Macron uma "ingerência", afirmando ainda que apenas servem para encorajar "as pessoas violentas e os transgressores".
Segundo analistas citados pela agência noticiosa AFP, a natureza multiforme das manifestações antigovernamentais, em particular dos jovens que se juntam em pequenos grupos em diversos bairros, complica as tentativas de detenção dos ativistas pelas forças de segurança.
Através de uma carta aberta divulgada na quinta-feira, o jornal reformista Etemad pediu ao mais alto responsável da segurança iraniana que ponha termo às detenções efetuadas sob "pretextos por vezes falaciosos".
Os últimos dias de confrontos decorreram em particular em Sanandaj, capital da província do Curdistão de onde era originária Mahsa Amini.
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