Borrell lamenta ofensa mas insiste em metáfora do 'jardim' e da 'selva'

O chefe da diplomacia europeia foi muito criticado por insistir numa analogia com conotações colonialistas e racistas, ao dizer que a "Europa é um jardim" e que "o resto do mundo é uma selva".

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Hélio Carvalho
19/10/2022 09:53 ‧ 19/10/2022 por Hélio Carvalho

Mundo

Josep Borrell

O alto representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Josep Borrell, procurou emendar as palavras utilizadas num discurso no Colégio da Europa, na semana passada, quando disse que "a Europa é um jardim" e que "o resto do mundo é maioritariamente uma selva".

A analogia de Borrell, que foi repetida pelo chefe da diplomacia europeia, motivou muitas críticas nas redes sociais e pela comunidade internacional, que acusou Borrell de usar expressões colonialistas e racistas. Os Emirados Árabes Unidos, por exemplo, afirmaram que os comentários eram "inapropriados e discriminatórios".

Na terça-feira, em comunicado, Josep Borrel procurou explicar a metáfora do jardim e da selva, começando por explicar que a metáfora é "usada por neoconservadores norte-americanos" e é comum em debates académicos e políticos.

Argumentando que a comparação remete para o conceito de uma ordem internacional "baseada em princípios aceites por todos", em contraposição ao conceito da "vontade do mais forte, comummente chamada de 'lei da selva'", Borrell defendeu-se ao escrever que "o mundo no qual vivemos parece-se cada vez mais comum uma 'selva' e cada vez menos como um 'jardim', porque em muitas partes do mundo, a lei do mais forte está a erodir normas internacionalmente aceites".

Borrell pediu desculpas apenas uma vez no texto, não pelo uso das palavras em si, mas sim pela possível má-interpretação.

"Alguns interpretaram mal a metáfora como 'colonialismo eurocêntrico'. Peço desculpa se ficaram ofendidos. Eu acredito e tenho disse que somos muitas vezes eurocêntricos e precisamos de ser humildes, e conhecer o resto do mundo, incluindo o Sul Global. Sempre critiquei a abordagem da 'Europa Fortaleza' e interagi muito no desenvolvimento de relações com outras partes do mundo", justificou-se.

Borrell também garantiu que se opõe "a qualquer forma de racismo" e reiterou a ideia de uma Europa aberta a todos, contra qualquer visão eurocêntrica.

Ainda assim, no mesmo comunicado, o diplomata usou a metáfora para, por exemplo, descrever a situação na Ucrânia, não com uma "conotação racista, cultural ou geográfica", mas antes para apontar que as ideias de isolacionismo estão em todo o lado.

Na passada quinta-feira, na inauguração de um novo programa académico de diplomacia, no Colégio da Europa, em Bruges, Josep Borrell disse que "a Europa é um jardim", com "a melhor combinação de liberdade política, prosperidade económica e coesão social que a humanidade já construiu", enquanto que "a maioria do resto do mundo é uma selva, e a selva pode invadir o jardim".

Além dos Emirados Árabes Unidos, também o Irão considerou os comentários como exemplo de "uma mentalidade colonialista completamente inaceitável".

Leia Também: "A Europa é um jardim. O resto do mundo é maioritariamente uma selva"

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