Amnistia Internacional denuncia crimes e admite "genocídio" no Tigray

A Amnistia Internacional (AI) afirmou hoje que têm sido cometidos crimes contra a humanidade "por todas as partes" e não excluiu a possibilidade de um "genocídio" no conflito que assola o norte da Etiópia há quase dois anos.

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Lusa
26/10/2022 16:36 ‧ 26/10/2022 por Lusa

Mundo

Etiópia

Desde o início da guerra na região norte do Tigray, em novembro de 2020, a organização não-governamental (ONG) registou "numerosas violações dos direitos humanos, incluindo violência sexual, violação, pilhagem, tortura e execuções extrajudiciais", disse Fisseha Tekle, investigador da AI na Etiópia e Eritreia, numa conferência de imprensa em Nairobi.

"Todas as partes" - naturais do Tigray, de Amhara (as milícias e forças de segurança da região vizinha do Tigray) e eritreus - "cometeram graves violações dos direitos humanos e crimes contra a humanidade", com "impunidade", disse Tekle, afirmando que estes abusos começaram "logo desde o início do conflito".

"Não excluímos a qualificação de genocídio, mas não temos, de momento, provas suficientes", continuou, apelando a "investigações internacionais" sobre casos documentados de violações dos direitos humanos.

O conflito na Etiópia estalou após um ataque da Frente de Libertação do Povo Tigray (TPLF, na sigla em inglês) à base principal do exército em Mekelle, que levou o primeiro-ministro a ordenar uma ofensiva contra o grupo, após vários meses de tensões políticas e administrativas. 

Os combates foram retomados a 24 de agosto, após cinco meses de tréguas humanitárias.

O Tigray está isolado do resto do país e privado de eletricidade, redes de telecomunicações, serviços bancários e combustível. A entrada de ajuda humanitária por via rodoviária e aérea também tem sido interrompida desde que os combates foram retomados.

"Milhões de pessoas no Tigray estão a enfrentar uma catástrofe humanitária", alertou Tekle.

As conversações de paz entre os rebeldes na região de Tigray e o governo etíope foram abertas na terça-feira, em Pretória, África do Sul, para "encontrar uma solução pacífica e duradoura" para a guerra. As conversações deverão continuar até 30 de outubro.

"Sem justiça, não pode haver paz duradoura", disse Fisseha Tekle, sublinhando que "a justiça deve ser o elemento central" das conversações de paz.

O resultado do conflito, que se desenrola em grande parte fora dos olhares mediáticos, é desconhecido. A embaixadora dos EUA na Organização das Nações Unidas (ONU), Linda Thomas-Greenfield, estimou, na sexta-feira, que em dois anos "morreram até meio milhão de pessoas".

A imprensa não tem acesso ao norte da Etiópia e as comunicações lá operam de forma desordenada, impossibilitando qualquer verificação independente das informações.

Segundo a ONU, a guerra também já deslocou mais de dois milhões de etíopes e mergulhou centenas de milhares de pessoas em condições muito próximas da fome.

O conflito no Tigray começou no início de novembro de 2020 quando o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, enviou o exército federal, apoiado por forças regionais de Amhara e do exército da Eritreia, para desalojar as autoridades rebeldes da região, a Frente de Libertação do Povo Tigray (TPLF, na sigla em inglês).

A TPLF dominou a coligação governante da Etiópia durante décadas antes de Abiy chegar ao poder, em 2018, e tê-los expulsado. 

Leia Também: Governo e rebeldes do Tigray começam conversações de paz em Pretória

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