As jornalistas Niloufar Hamedi, de 30 anos, e Elaheh Mohammadi, de 35 anos, foram detidas no início dos grandes protestos que eclodiram no Irão após a morte de Mahsa Amini em 16 de setembro, três dias depois de ter sido detida em Teerão pela chamada 'polícia dos costumes', que a acusou de violar o rígido código de indumentária, que inclui o uso do véu em público.
Os protestos, descritos como tumultos pelas autoridades iranianas, são os maiores, em escala e natureza, desde a Revolução Islâmica de 1979.
Niloufar Hamedi, do jornal Shargh, que se deslocou ao hospital onde Mahsa Amini estava em coma antes de morrer, foi detida em 20 de setembro, segundo sua família.
Já Elaheh Mohammadi, do diário Ham Mihan, tinha viajado para Saghez (província iraniana do Curdistão), cidade natal de Mahsa Amini, para cobrir o funeral da jovem, onde ocorreu uma das primeiras manifestações deste grande movimento de protesto. A jornalista foi detida em 29 de setembro.
As duas jornalistas estão detidas na prisão de Evin, em Teerão, de acordo com mensagens divulgadas nas redes sociais pelas famílias, noticiou hoje a agência France-Presse (AFP).
Estas estão entre os 51 jornalistas detidos no Irão, na sequência de uma vaga de detenções pelas autoridades desde o início dos protestos, segundo dados divulgados pelo Comité para a Proteção dos Jornalistas (CPJ).
Destes, apenas 14 fora libertados mediante pagamento de uma fiança.
O Centro de Defensores dos Direitos Humanos no Irão (CHRI) com sede em Nova Iorque, referiu em comunicado que está "profundamente preocupado" com a situação dos dois jornalistas.
Este organismo destacou ainda que os jornalistas "estão a detidos sem respeito pelos procedimentos legais internacionalmente reconhecidos e podem enfrentar anos de prisão caso sejam condenados".
A organização não-governamental (ONG) instou ainda a comunidade internacional a mobilizar-se por estas duas mulheres, "que sofrem, sem proteção, com a fúria das autoridades iranianas, tal como os milhares de pessoas detidas arbitrária e ilegalmente no Irão".
Na semana passada, uma declaração conjunta do Ministério de Inteligência do Irão e dos serviços de inteligência da Guarda Revolucionária, o exército ideológico de Teerão, acusou as duas jornalistas de serem espiãs e utilizarem o seu estatuto de jornalistas como "disfarce".
O comunicado afirma que ambas as mulheres concluíram programas de treino no exterior e acusa-as de terem incentivado a ira da família de Mahsa Amini e as manifestações que eclodiram após o enterro da jovem.
"Deve-se mencionar também que as duas [jornalistas] foram as primeiras fontes que permitiram fabricar esta informação para os 'media' estrangeiros", acusa ainda o comunicado.
De acordo com o CPJ, esta acusação significa que as duas mulheres "podem enfrentar a pena de morte" se forem formalmente acusadas e condenadas por espionagem.
Para a CHRI, esta declaração está "cheia de acusações infundadas", incluindo uma falsa acusação de que Hamedi postou na sua conta no Twitter uma foto de Mahsa Amini que se tornou viral nas redes sociais.
"Esta caça às bruxas é uma tentativa cobarde da República Islâmica de culpar as duas jornalistas pelas suas próprias falhas, desviar a atenção das políticas repressivas que deram origem a este movimento de protesto espontâneo e crescente", sublinhou o diretor da CHRI, Hadi Ghaemi.
No domingo, mais de 300 jornalistas e fotojornalistas iranianos assinaram uma declaração criticando as autoridades por terem "prendido colegas e privando-os dos seus direitos", incluindo "o acesso a um advogado".
Questionado pela agência Isna sobre um grande número de jornalistas e fotógrafos detidos, o diretor-geral para os órgãos de comunicação locais do Ministério da Cultura, Iman Shamsaï, sublinhou que "ninguém foi preso em Teerão devido a atividades dos 'media'".
A contestação e os protestos continuam no Irão pela sétima semana consecutiva apesar do aumento de repressão, os julgamentos e as condenações à morte, descrevem hoje organizações de defesa dos direitos humanos.
Na semana passada, as autoridades alertaram os manifestantes que era hora de sair das ruas, mas os protestos continuam inabaláveis, com manifestações em áreas residenciais, universidades e nas principais avenidas.
De acordo com a organização não-governamental (ONG) Iran Human Rights, que tem sede em Oslo, 160 pessoas foram mortas nas manifestações e outras 93 em distúrbios separados em Zahedan (sudeste).
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