Ramos-Horta apela a Lula para promover a paz no Brasil e na Ucrânia
O Nobel da Paz José Ramos-Horta afirmou hoje que Lula da Silva deve combater a polarização, considerando-o o líder ideal para pacificar o Brasil, mas também ajudar na resolução de tensões internacionais, como na Ucrânia.
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Mundo Ramos-Horta
"Eu não conheço o Presidente [Jair] Bolsonaro e nem a equipa dele. Espero que na derrota ele mostre que é maior que do que as pessoas pensam, um maior estadista do que nós todos pensávamos e tudo faça para que a transição seja pacífica", afirmou, em entrevista à Lusa José Ramos-Horta, de visita a Lisboa.
O Presidente timorense elogiou o vencedor das eleições brasileiras Luiz Inácio Lula da Silva e a sua capacidade para estabilizar o Brasil.
"O Presidente Lula sempre revelou a essa sua magnanimidade, esse seu sentido de pragmatismo", afirmou Ramos-Horta, lembrando o percurso do político na presidência brasileira: "Quando foi eleito primeira vez e antes ser eleito primeira vez, há 20 anos, havia receios no setor empresarial e financeiro do Brasil e Washington, que temiam aquele background radical de sindicalista".
Mas acabou por ser "uma surpresa para todos", considerou.
Nos mandatos de Lula, "o Brasil e a economia brasileira foi à estratosfera, pagou as dívidas ao FMI" [Fundo Monetário Internacional] e promoveu a "redução dramática da pobreza", disse Ramos-Horta.
Agora e depois das eleições de domingo, "o pior que pode acontecer" seriam políticas de "discriminação e exclusão ou perseguição", como "fizeram ao Lula", disse Ramos-Horta sobre as acusações judiciais de que foi alvo o Presidente eleito.
"Lula não vai responder de igual maneira" e "vai abraçar os outros", incluindo os opositores, mas também trará o país à cena internacional com novo fôlego, num contexto de várias crises, como é o caso de Myanmar [antiga Birmânia], que "está numa situação catastrófica", ou o mar do Sul da China, "excessivamente militarizado por todos" e onde a situação de Taiwan face à China "pode levar a imprudências", porque os "conflitos às vezes acontecem por acidente".
"Estive com o engenheiro António Guterres [secretário-geral da ONU], há mais de um mês, e via-se na cara dele" que estava "muito preocupado, pessimista em relação à situação da evolução da guerra da Ucrânia".
Isso constitui uma oportunidade diplomática para o Brasil, que integra o bloco dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) considerou.
"Com Lula, o Brasil vai ter que primeiro começar o diálogo com os seus vizinhos, com os Estados Unidos, restaurar as relações com a União Europeia e, em particular, com países como a França e Inglaterra, que estão no Conselho de Segurança", mas também "falar com [o Presidente russo, Vladimir] Putin, mobilizar [o Presidente Recep Tayyip] Erdogan da Turquia, mobilizar a Indonésia, ou o [primeiro-ministro, Narendra] Modi da Índia, para tentar desarmar a situação na Ucrânia e Rússia", defendeu o Presidente timorense, que reconheceu as dificuldades de um acordo.
O mundo deve insistir "pelo menos num cessar-fogo" no terreno, sem vincular as partes a cedências permanentes, sem mais "movimentação de forças de um lado ou do outro, e isto de imediato permitiria, com uma pausa no conflito, normalizar a situação das exportações e importações", propôs Ramos-Horta.
"Isto, claro, na minha apreciação de que há algum bom senso no Putin, mas eu creio que Putin, se tiver incentivos para recuar, ele recuará. Porque não vai ganhar essa guerra, ele está a arruinar a Rússia", disse Ramos-Horta.
Tudo o que Vladimir Putin "conseguiu fazer na Rússia ao longo do seu mandato está agora sendo destruído", sublinhou.
No entanto, é "preciso dar a Putin formas de recuar" e, para tal, é necessário que os ucranianos não insistam num maior envolvimento das forças ocidentais.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, não pode achar que vai "ganhar esta guerra com um maior envolvimento da NATO", porque "não vai", apenas irá "destruir mais ainda a Ucrânia e a Rússia".
Por isso, pelo papel de diálogo que tem, Lula tem condições para "trazer as partes" ao diálogo, incluindo a China. "O Brasil pode fazê-lo e isto ajudará um novo eixo mundial, que já não gira apenas em torno dos Estados Unidos ou da Rússia ou da China".
"O Brasil com a Índia, com a África do Sul, com a Indonésia", a Coreia do Sul ou outros, podem criar "um novo eixo multipolar, de vários países em várias regiões do mundo, que são grandes economias e que representam a maior parte da população mundial", afirmou Ramos-Horta.
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