Num debate do Conselho de Segurança da ONU sobre operações de manutenção da paz em África, Guterres indicou que os contextos locais e globais em que as operações e missões das Nações Unidas trabalham estão cada vez mais desafiantes.
"As tensões geopolíticas estão a aumentar. A insegurança está a espalhar-se. Os motores da instabilidade são poderosos e reforçam-se mutuamente", disse o secretário-geral, dando como exemplo a escalada de catástrofes climáticas, o agravamento da fome e da pobreza, aprofundamento das desigualdades, disseminação da misoginia violenta, desinformação e diminuição da confiança nas instituições.
"Tudo isso está a alimentar tensões políticas, desespero económico e agitação social. Mudanças inconstitucionais de Governo proliferam, ao lado de conflitos interestatais, invasões e guerras. As divisões arraigadas entre as potências mundiais continuam a limitar a nossa capacidade de responder coletivamente", acrescentou, sem mencionar nenhum país em concreto.
Nesse sentido, Guterres indicou quatro prioridades para que seja alcançada a prevenção e construção da paz no continente africano.
Em primeiro lugar, o ex-primeiro-ministro português sugeriu que seja aprofundado o envolvimento com as comunidades locais e a promoção de Governos e instituições mais recetivos e inclusivos.
"Em segundo, devemos reforçar a liderança de mulheres e jovens na formação do futuro dos seus países e garantir que eles beneficiem dos ganhos de paz e desenvolvimento", apelou.
De acordo com o líder das Nações Unidas, as contribuições das mulheres nos processos de paz a nível local têm sido fundamentais para a construção da resiliência das comunidades.
Para esse efeito, a ONU tem investido em parcerias com mulheres líderes locais e tem procurado garantir a total paridade de género e liderança feminina -- inclusive através de quotas -- em monitorizações eleitorais, reformas do setor de segurança, desarmamento e sistemas de justiça.
O terceiro ponto indicado por Guterres foi a necessidade de aprofundar as parcerias entre a ONU, a União Africana e outras organizações regionais, bem como com instituições financeiras internacionais e regionais.
Para último, Guterres deixou a "questão crucial das finanças", avaliando que a comunidade internacional "continua a investir pouco na paz".
"O Fundo de Consolidação da Paz continua a ser um recurso inestimável. No ano passado, o Fundo forneceu 150 milhões de dólares [153,5 milhões de euros] para 25 países da África e tornou-se o catalisador para contribuições muito maiores de outras instituições financeiras. Mas as necessidades superam os recursos", observou.
"O financiamento deve ser ampliado -- e as parcerias com instituições financeiras internacionais ainda mais fortalecidas", concluiu.
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