À margem do Dia da Unidade Nacional da Rússia, que se celebra esta sexta-feira, dia 4 de novembro, o antigo presidente e atual vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitry Medvedev, assinalou que Moscovo está a travar uma luta "sagrada" contra o "líder do inferno", avisando que, com a guerra na Ucrânia, o país tem a "oportunidade de enviar os inimigos para o fogo eterno de Geena [lugar de tormento]".
Numa publicação intitulada “por que é que a nossa causa é certa”, Medvedev propôs-se a esclarecer os objetivos do conflito na Ucrânia, começando por conceder algum contexto histórico. Nessa linha, explicou, na sua página do Telegram, que “a Rússia é um país enorme e rico”, que não necessita de “territórios estrangeiros”, uma vez que tem “tudo em abundância”.
“Mas há a nossa terra, que é sagrada para nós, na qual os nossos antepassados viveram e na qual o nosso povo vive hoje. E que não daremos a ninguém. Nós protegemos o nosso povo. Estamos a lutar por todo o nosso povo, pela nossa terra, pela nossa história de mil anos”, complementou.
Na sua ótica, a Rússia está, por isso, a lutar “contra aqueles que [a] odeiam, que proíbem a [sua] língua, os [seus] valores, e até a [sua] fé, que espalham ódio à história da [sua] pátria”.
“Contra nós, hoje, está um mundo moribundo. [Lutamos contra] um bando de nazistas loucos viciados em drogas, pessoas drogadas e intimidadas por eles, e uma grande matilha de cães do canil ocidental”, atirou, considerando ainda que estes “não têm fé e ideais, exceto hábitos obscenos inventados por eles, e padrões de duplicidade, negando a moralidade concedida às pessoas normais. Portanto, tendo-nos erguido contra eles, [e] adquirimos poder sagrado”.
Contudo, nesta luta “sagrada”, o ex-presidente russo lançou que o país foi abandonado por “alguns parceiros assustados”, aos quais não dá importância porque, na verdade, tratavam-se apenas de “parasitas”.
“Traidores covardes e desertores gananciosos caíram em terras distantes - deixaram os seus ossos apodrecer numa terra estrangeira. Não estão entre nós, mas tornámo-nos mais fortes e mais limpos”, escreveu, justificando que o silêncio da Rússia, até agora, se deveu à “devastação da atemporalidade”.
“Agora, livrámo-nos da neblina sombria das últimas décadas, na qual a morte da antiga pátria nos mergulhou. Outros países aguardavam o nosso despertar, violados pelos senhores das trevas, proprietários de escravos e opressores que sonham com o seu monstruoso passado colonial e anseiam por manter o seu poder sobre o mundo. Muitos países não acreditam [nas suas ideias absurdas], mas ainda têm medo. Em breve vão acordar completamente. E quando a ordem mundial podre entrar em colapso, enterrará todos os seus sacerdotes arrogantes, adeptos sanguinários, criados ‘zombie’, e escravos burros sob uma pilha de toneladas de destroços”, considerou.
Medvedev foi mais longe, avisando que a Rússia tem, neste momento, “a oportunidade de enviar todos os inimigos para o fogo eterno de Geena”, mas ressalvou que “essa não é a [sua] tarefa”.
“Ouvimos as palavras do criador nos nossos corações e obedecemos. Essas palavras dão-nos um propósito sagrado. O objetivo é parar o líder supremo do inferno, não importa o nome que ele use – Satanás, Lúcifer ou Iblis. Pois o seu objetivo é a morte. O nosso objetivo é a vida. A sua arma é uma mentira intrincada. E as nossas armas são a verdade. É por isso que a nossa causa está certa. É por isso que a vitória será nossa!", rematou.
Lançada a 24 de fevereiro, a ofensiva russa na Ucrânia já causou a fuga de mais de 13 milhões de pessoas - mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,7 milhões para países europeus -, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa - justificada pelo presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.430 civis mortos e 9.865 feridos, sublinhando, contudo, que estes números estão muito aquém dos reais.
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