'Midterms' 2022. Os principais temas da campanha nos Estados Unidos

Conheça os principais temas que preocupam os eleitores norte-americanos, a poucos dias das 'Midterms' que decidirão que controla o Congresso durante os próximos dois anos.

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Lusa
06/11/2022 08:05 ‧ 06/11/2022 por Lusa

Mundo

Midterms

Na campanha para eleições intercalares dos EUA, que se realizam na próxima terça-feira, os principais temas de Democratas e Republicanos concentram-se num leque de cerca de uma dezena de questões sociais e económicas.

Eis uma lista dos principais temas abordados pelos candidatos de ambos os partidos na campanha para a eleição em que está em jogo o controlo das duas câmaras do Congresso.

Aborto

Uma recente decisão do Supremo Tribunal dos EUA reverteu a jurisprudência de que uma lei federal tornava o direito ao aborto geral no país, dando aos governos estaduais capacidade de decisão sobre a matéria.

Esta questão catapultou o tema do aborto para os palcos dos comícios de campanha, sobretudo entre os candidatos democratas, que procuram com este tema criticar a posição que consideram "obsoleta e conservadora" dos republicanos.

Mas em estados mais conservadores, como Kansas ou Missouri, os eleitores parecem aprovar o apoio que os líderes republicanos estão a dar a esta decisão judicial, com vários candidatos a pedir que o Governo federal estenda a proibição do aborto a nível nacional.

Clima

Os candidatos democratas têm tentado trazer o tema do clima para a campanha, para aproveitar o embaraço das decisões de Donald Trump nesta área, nomeadamente a saída (já revertida pelo Presidente Joe Biden) do Tratado de Paris, que foi fortemente criticada pela maioria dos governos estaduais, mesmo alguns dominados pelos republicanos.

Mas, em estados do interior, alguns democratas desistiram desse intuito, percebendo que as preocupações ambientais podem ser politicamente contraproducentes, num momento de crise energética, com o preço da gasolina a aumentar, e quando as pessoas parecem mais preocupadas com o investimento federal no setor económico.

Controlo de armas

Os candidatos de ambos os partidos já gastaram mais de seis mil milhões de dólares (valor idêntico em euros) em anúncios de campanha, para as eleições intercalares, e vários estudos revelam que, em muitos dos cartazes nota-se a presença de armas.

Este é um velho de tema de campanha nos Estados Unidos, servindo para salientar as diferenças entre os dois partidos, com os republicanos mais favoráveis a um menor controlo sobre o uso e porte de armas e os democratas a exigirem legislação mais apertada, para evitar os frequentes massacres atribuídos à facilidade com que se compram armas no país.

Democracia

O tema da integridade eleitoral é novo nas campanhas eleitorais norte-americanas, tendo sido introduzido por causa da insistência do ex-presidente Donald Trump de que as eleições presidenciais de 2020 foram um "roubo".

Por isso, é natural que seja um tema preferido dos candidatos democratas, que aproveitam para defender reformas que permitam o mais fácil acesso ao voto, sobretudo entre o eleitorado das minorias.

O ataque ao Capitólio, a 6 de janeiro de 2021, deixou visível a ameaça sobre a saúde da democracia nos Estados Unidos, com numerosos candidatos republicanos a insistirem nas dúvidas sobre a transparência do processo eleitoral, admitindo mesmo voltar a contestar o resultado da contagem de votos.

Habitação

Este é um dos temas politicamente mais sensíveis na área económica, depois de as taxas de juro para empréstimos à compra de casa terem duplicado, de 3,01% em outubro de 2021 para 6,66% este mês.

A pandemia de covid-19 aumentou a procura por habitação, inflacionando de forma abrupta o preço das casas, 16% no último ano.

Os elevados custos de empréstimos para a compra de casa estão a afetar milhões de norte-americanos e, nesta campanha para as eleições intercalares, os candidatos dos dois partidos tentam apresentar aos eleitores soluções para o problema, desde a criação de medidas públicas de investimento na construção habitacional, até legislação para travar o aumento das taxas de juro para o crédito à habitação.

Imigração

Aquela que foi uma das bandeiras de campanha presidencial do republicano Donald Trump, em 2016, volta a ser empunhada por muitos candidatos republicanos, que criticam a "passividade" da Casa Branca perante o aumento da imigração ilegal.

Este tem sido um tema muito discutido sobretudo em estados com fronteira com o México, como Arizona e Texas, mas também na Florida, onde o governador republicano incumbente, Ron DeSantis, tem salientado os riscos do descontrolo sobre a imigração oriunda da América Central.

Em resposta à pressão dos republicanos, recentemente a Casa Branca inverteu a sua estratégia para a imigração ilegal e anunciou o prolongamento de uma medida da era Trump, que permite aos guardas de fronteira recusar pedidos de asilo com base em argumentos sanitários.

Inflação

A dificuldade sentida pela Casa Branca em combater a inflação, apesar dos esforços da Reserva Federal (que tem aumentado substancialmente as taxas de juro), é um dos temas dominantes desta campanha eleitoral, mais uma vez, pela voz dos candidatos republicanos.

De acordo com um recente relatório do 'think tank' Brookings Institution, apenas 17% dos candidatos democratas falam do tema, incómodo para Biden, procurando evitar embaraços, nomeadamente por causa do fracasso de recentes medidas, como as de injetar no mercado energético o petróleo das reservas estratégicas, na tentativa desesperada de fazer baixar o preço da gasolina em véspera de eleições.

Ao mesmo tempo, as previsões indicam que as medidas do Governo de Biden vão fazer aumentar o défice dos Estados Unidos em mais de 4,8 biliões de dólares (valor idêntico em euros) até 2031, o que está a servir para os republicanos criticarem os excessos despesistas dos seus adversários políticos.

Juízes

O ex-Presidente republicano Donald Trump conseguiu nomear mais de 200 juízes para o sistema judicial norte-americano, durante o seu mandato único, deixando um legado profundo nesta área política.

Só nos últimos meses, Joe Biden já nomeou mais de 75 juízes federais, numa espécie de resposta ao controlo republicano dos tribunais e fazendo desta questão um tema de campanha para muitos candidatos ao Congresso, que tem alçada sobre a matéria.

Se os democratas perderem o controlo do Congresso, os republicanos já prometeram dificultar o processo de escolha de juízes por parte do Governo democrata.

Ucrânia

A invasão russa da Ucrânia tem sido um dos poucos temas de política internacional na campanha para as eleições intercalares, até porque nos comícios não há grandes divisões entre democratas e republicanos, com ambos os partidos a reclamar a necessidade de continuar a apoiar Kiev contra Moscovo.

Ainda assim, os analistas consideram que se os democratas perderem o controlo do Congresso, em particular do Senado, o apoio de Washington à resistência ucraniana pode ficar mais difícil.

Recentemente, o líder da bancada republicana na Câmara de Representantes, Kevin McCarthy, disse que se o seu partido vencer as eleições intercalares, o Congresso deixará de "passar cheques em branco" a Kiev, dando a entender que o Presidente Biden deverá ter mais dificuldades em fazer aprovar novos pacotes de ajuda financeira e militar a Kiev.

Leia Também: 'Midterms' nos EUA dividem republicanos e avaliam mandato de Biden

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