O relatório da "Partnership for Policy Integrity", organização que produz informação científica sobre os impactos do desenvolvimento energético na qualidade do ar, água, ecossistemas e clima, alerta que a UE está a perder florestas "a um ritmo alarmante", especialmente devido ao corte de árvores para produção de energia.
O documento, divulgado em comunicado pela organização ambientalista portuguesa Zero, baseia-se em dados governamentais que indicam que a política de biomassa florestal da UE "está a minar o clima, o restauro da natureza e os objetivos da qualidade do ar".
"As políticas da UE que incentivam a energia a partir da biomassa como ´carbono zero´ e ´renovável´ conduziram a um aumento acentuado da sua utilização", afirma-se no relatório, segundo o qual o consumo de energia a partir de biomassa "mais do que duplicou" em toda a UE desde 1990, tendo a maior parte deste aumento ocorrido desde 2002.
A organização revela que a maior parte da biomassa considerada como energia renovável é madeira em grande parte retirada diretamente das florestas, e diz que, devido aos níveis de exploração de madeira, a UE perdeu cerca de 25% da capacidade anual de absorção de carbono na área terrestre entre 2002 e 2020.
A "Partnership for Policy Integrity" diz no relatório que a maioria dos Estados-membros, onde Portugal figura, tem sofrido "declínios acentuados" da floresta.
"Com as atuais taxas de declínio, a maioria dos Estados não atingirá as suas metas para 2030, colocando as metas climáticas e o objetivo de emissões de carbono ´zero´ fora de alcance", avisa a organização, acrescentando que a queima de biomassa irá colocar em causa a qualidade do ar.
O comunicado da Zero diz ainda que em Portugal a madeira e os "pellets" de madeira representam mais de 50% de toda a biomassa, tendo havido um incremento na utilização da biomassa nos últimos 10 anos.
"Quando se olha para o consumo de energias renováveis nos setores dos transportes, eletricidade, aquecimento e arrefecimento, aproximadamente 40% resulta da queima de biomassa, com o setor residencial a corresponder a 15%. Quando se olha para a importância da biomassa para a produção de eletricidade, cerca de 10% da eletricidade produzida em 2020 teve origem na queima de biomassa", diz-se no comunicado.
A Zero lembra que Portugal produz e exporta "pellets" de madeira para países como a Dinamarca ou Países Baixos, e diz que Portugal e os restantes Estados-membros devem defender o fim do subsídio à queima de biomassa lenhosa primária para a produção de energia.
Os Estados devem também, acrescenta, defender que se limite de forma progressiva a contabilização da energia da biomassa lenhosa primária para os objetivos da UE em matéria de energias renováveis.
Leia Também: COP27. UE apela a maior empenho na defesa do clima e da vida