Numa reunião do Conselho de Segurança, a embaixadora dos EUA junto da ONU, Linda Thomas-Greenfield, afirmou que por "63 vezes este ano a Coreia do Norte violou de forma flagrante as resoluções" daquele órgão e "demonstrou total desrespeito pela segurança da região".
"Quantos mísseis mais devem ser lançados antes de respondermos como um Conselho unificado?", questionou a representante diplomática, acusando o regime de Pyongyang de agir com impunidade e sem medo de uma resposta ou represália do Conselho de Segurança, órgão máximo da ONU devido à sua capacidade de fazer aprovar resoluções com caráter vinculativo.
"Esta é a décima vez que nos reunimos sem ações significativas. A razão é simples: dois membros do Conselho com poder de veto estão a capacitar e a encorajar a Coreia do Norte", frisou Thomas-Greenfield.
A diplomata norte-americana referia-se assim ao poder de veto da Rússia e da China -- dois dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança e aliados da Coreia do Norte -, que impediu várias resoluções condenatórias nos últimos tempos.
A Rússia e a China, de acordo com a embaixadora norte-americana, permitiram que o regime norte-coreano realizasse, na passada sexta-feira, um teste de um míssil balístico de alcance intercontinental.
Para Linda Thomas-Greenfield, tal ação colocou em risco a vida de civis japoneses e aumentou desnecessariamente as tensões na região.
"Tenho mantido reuniões com os Estados-membros da ONU para ouvir as suas ideias sobre a reforma do Conselho de Segurança. E (...) quando eles falam sobre abuso do veto, eles estão a falar de casos exatamente como este", referiu.
Nesse sentido, os Estados Unidos pediram uma Declaração Presidencial do Conselho de Segurança para responsabilizar a Coreia do Norte pelos seus testes de mísseis.
"Daremos outra oportunidade para o Conselho responsabilizar a Coreia do Norte pela sua retórica perigosa e as suas ações desestabilizadoras. Os Estados Unidos irão propor uma Declaração Presidencial para este fim", anunciou.
Uma Declaração Presidencial é uma feita pelo Presidente do Conselho de Segurança em nome de todos os países-membros, adotada em reunião formal e emitida como um documento oficial desse órgão da ONU, e é frequentemente criada quando o Conselho não consegue chegar a um consenso ou é impedido de aprovar uma resolução pelo veto ou ameaça de veto de um membro permanente.
"Deixem-me ser clara: Os EUA estão empenhados em seguir uma abordagem diplomática. Estamos preparados para um encontro sem pré-condições e exorto a Coreia do Norte a envolver-se numa diplomacia séria e sustentada. Mas a Coreia do Norte continua a não responder e, em vez disso, opta por continuar com esse comportamento imprudente. Em vez disso, o Conselho deve responder", concluiu Thomas-Greenfield.
Na passada sexta-feira, a Coreia do Norte disparou um míssil balístico intercontinental, que caiu no mar, em águas da Zona Económica Exclusiva (ZEE) do Japão. O míssil lançado pelo regime de Pyongyang tinha alcance suficiente para chegar ao território continental dos EUA.
A reunião de hoje do Conselho de Segurança é a terceira nos últimos dois meses para discutir os lançamentos de mísseis por Pyongyang.
O embaixador da China na ONU, Zhang Jun, aproveitou a reunião para defender que o seu país está "preocupado" com a situação na península coreana, a qual considera estar "numa espiral ascendente de tensão crescente e confronto intensificado".
Zhang Jun disse que os EUA "devem tomar a iniciativa, mostrar sinceridade, apresentar propostas realistas e viáveis, responder positivamente às preocupações legítimas da Coreia do Norte e transformar o diálogo de uma formalidade em realidade o mais rápido possível".
Por sua vez, a representante permanente adjunta da Rússia, Anna Evstigneeva, manifestou a oposição de Moscovo "a qualquer atividade militar que represente uma ameaça à segurança da península coreana e dos estados do nordeste Asiático".
Contudo, responsabilizou os Estados Unidos e os seus aliados pelo escalar da situação.
"Os EUA e os aliados realizam exercícios militares em grande escala na região, a Coreia do Norte reage e nós reunimo-nos aqui para discutir isso. (...) A nosso ver, a razão para isso é óbvia -- o desejo de Washington de forçar Pyongyang a um desarmamento unilateral por meio de sanções e pressão", avaliou a diplomata russa.
"Lamentamos profundamente que os nossos colegas ocidentais tenham consistentemente ignorado os numerosos apelos de Pyongyang aos EUA para interromper a sua atividade hostil, o que teria criado oportunidades de diálogo. As concessões feitas por Pyongyang em 2018 e 2019 não foram tidas em consideração", considerou Evstigneeva.
Ainda na reunião de hoje, a subsecretária-geral para Assuntos Políticos e de Consolidação da Paz da ONU, Rosemary DiCarlo, apresentou mais detalhes sobre "as atividades alarmantes" de Pyongyang relacionadas com programas de armas nucleares e mísseis balísticos.
"A busca contínua da Coreia do Norte pelo seu programa de armas nucleares e lançamentos de mísseis balísticos viola descaradamente resoluções relevantes do Conselho de Segurança e levou a uma escalada significativa das tensões", disse.
De acordo com DiCarlo, a Coreia do Norte "parece prosseguir ativamente com o seu programa nuclear", tendo a Agência Internacional de Energia Atómica observado atividade no local, assim como a "construção de instalações nucleares em Yongby" e a operação de um "reator nuclear de cinco megawatts".
Alguns países criticaram ainda a Coreia do Norte por gastar fundos no seu programa de mísseis, ignorando as necessidades humanitárias do seu povo.
A par da reunião de hoje, a Albânia, Austrália, Equador, França, Irlanda, Índia, Japão, Malta, Noruega, Coreia do Sul, Suíça, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido e Estados Unidos lançaram uma declaração conjunta, "apoiando a necessidade do Conselho condenar as ações da Coreia do Norte com uma voz unificada e tomar medidas para limitar as armas ilegais de destruição em massa e os avanços de mísseis balísticos".
[Notícia atualizada às 18h17]
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