A última conversa que Sandra Torres teve com a sua filha de 10 anos foi sobre o nervosismo em relação a entrar ou não para a equipa de estrelas de 'softball'. Horas depois, a menina estaria entre as 19 crianças e dois professores vítimas do massacre de Uvalde.
Ainda sem conseguir ultrapassar o luto e com poucas respostas sobre o que levou as forças de autoridade a demorar 77 minutos a esperar na entrada da escola em vez de avançar para controlar o atirador, Sandra Torres avançou hoje com uma ação federal.
"A minha menina nunca conseguiu sair da escola" disse, acrescentando que não há "assunção de responsabilidades ou transparência" e que "nada está a ser feito".
O processo acusa o município, o departamento escolar e vários departamentos da polícia de um "completo falhanço" na adoção de protocolos contra um atirador ativo, assim como contra a violação dos direitos constitucionais das vítimas ao "barricá-los" dentro de duas salas de aula com o assassino ao longo de mais de uma hora.
Os visados na queixa não fizeram ainda qualquer comentário.
Torres tem a assistência do gabinete jurídico de uma associação que luta pelo controlo do uso de armas nos EUA -- Everytown for Gun Safety -, sendo que o processo também visa o fabricante de armas da espingarda semiautomática que o atirador, Salvador Ramos, usou para disparar mais de 100 tiros no massacre.
A acusação enquadra-se numa nova frente legal, em expansão, nos tribunais do país, contra as armas de fogo.
Apesar de os fabricantes estarem habitualmente protegidos pela lei federal contra processos relativos a crimes cometidos com os seus produtos, as famílias das vítimas do massacre de 2012 na escola primária de Sandy Hook, em Newtown, Connecticut, asseguraram um acordo de 73 milhões de dólares com a Remington, a fabricante da arma usada nesse massacre há uma década.
Um relatório de julho concluiu que quase 400 agentes de autoridade acorreram ao tiroteio, mas um processo de más tomadas de decisão resultou em mais de uma hora de caos antes do atirador ser finalmente confrontado e abatido.
O documento criticou as autoridades estaduais e federais, assim como as autoridades locais, por colocarem a sua própria segurança à frente da vida das vítimas.
Um pai cujo filho ficou ferido no tiroteio e outros dois pais cujas crianças se encontravam na escola nessa altura foram os primeiros a interpor uma ação judicial, em setembro, relacionada com o massacre de Uvalde.
Para Sandra Torres, o processo é também uma forma de procurar respostas sobre a desastrosa resposta policial, sublinhando que durante 77 minutos os agentes "não fizeram nada, nada de nada".
Leia Também: Texas. Chefe da polícia de Uvalde aquando do massacre demite-se