"Não dei nenhuma ordem a ninguém, sr. imperador da acusação", disse Camará ao procurador, no segundo dia do seu interrogatório no julgamento.
O capitão Camará, 57 anos, juntamente com uma dúzia de ex-militares e funcionários do Governo, é acusado de vários assassínios, torturas, violações e raptos cometidos em 28 de setembro de 2009 pelas forças de segurança num estádio nos arredores de Conacri, onde dezenas de milhares de apoiantes da oposição se tinham reunido para dissuadir Camará de concorrer às eleições presidenciais de janeiro de 2010. Os abusos continuaram nos dias seguintes.
Camará, levado ao poder por um golpe de Estado nove meses antes, era o então Presidente.
Naqueles dias, pelo menos, 156 pessoas foram mortas e centenas feridas, e, pelo menos, 109 mulheres foram violadas, de acordo com o relatório de uma comissão de inquérito mandatada pela Organização das Nações Unidas.
O tenente Aboubacar Sidiki Diakité, conhecido como "Toumba", ex-ajudante de campo de Camará e chefe da sua unidade de proteção, e que também é um dos principais acusadores do antigo ditador, afirmou, no início do julgamento, que o antigo líder da junta preparou o massacre e de ter dito nesse dia: "O poder está na rua. Devemos subjugá-los, fazê-los lamentar".
"Está tudo errado. Não é a verdade", respondeu Camará. "Um homem que teve a coragem de disparar à queima-roupa, em relação a alegações, vai ficar embaraçado", questionou.
O procurador questionou-o então sobre a sua atitude passiva e de observação durante os acontecimentos.
Camará justificou que a sua intervenção teria provocado "ainda mais carnificina". "Não podia fazê-lo e, ao fazê-lo, ia comprometer perigosamente a situação", reforçou.
"Tomei imediatamente medidas para prender o elemento principal que estava sob o meu comando [Sidiki Diakité], só que ele percebeu de imediato. Ele preparou-se em conformidade. Não pude prendê-lo porque ele estava fortemente armado", explicou.
"Penso que o senhor procurador deveria felicitar-me. Se um deles tivesse perdido a sua vida, nunca teria havido este julgamento", continuou.
O antigo ditador confirmou que existiam elementos dos boinas vermelhas, a unidade de elite do exército guineense, que perpetraram os massacres no estádio.
Na segunda-feira, Moussa Dadis Camará negou a responsabilidade e gritou "conspiração" durante o seu primeiro testemunho em tribunal. O testemunho do ex-Presidente foi o momento mais esperado do julgamento que teve início em 28 de setembro, 13 anos depois dos acontecimentos na Guiné-Conacri, país que faz fronteira com a Guiné-Bissau.
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