Eis uma cronologia dos principais desenvolvimentos na Tunísia desde o "golpe de força" operado por Saied em julho de 2021 até às eleições legislativas do próximo sábado:
PLENOS PODERES
A 25 de julho de 2021, Kais Saied anuncia a suspensão dos trabalhos do Parlamento e a demissão do primeiro-ministro Hichem Mechichi, alegando querer "salvar" o país, atormentado por meses de impasses políticos.
O Presidente, também comandante em chefe das Forças Armadas da Tunísia, concede a si mesmo o poder executivo, anunciando que quer nomear um novo primeiro-ministro.
"GOLPE DE ESTADO"
O partido de inspiração islâmica Ennahdha, que detinha o maior número de assentos no Parlamento, classifica as decisões de Saied como "um golpe de Estado".
No dia 28 de julho, Saied lançou uma ofensiva anticorrupção, exigindo a responsabilização de 460 empresários acusados de peculato durante o regime de Zine el Abidine Ben Ali (1987-2011) derrubado pela revolta popular de 2011.
A 24 de agosto, o Presidente estendeu a suspensão do Parlamento "até novo aviso".
MEDIDAS EXCECIONAIS
A 22 de setembro, Kais Saied promulga disposições excecionais que o autorizam a legislar por decreto.
O líder do Ennahdha, Rached Ghannouchi, pede uma "luta pacífica" contra "o poder absoluto de um só homem".
A 11 de outubro, a Tunísia aprova um novo governo chefiado pela primeira vez por uma mulher, a académica Najla Bouden, cujas prerrogativas são consideravelmente reduzidas.
JUSTIÇA SOB VIGILÂNCIA
A 5 de fevereiro, Saied anuncia a dissolução do Conselho Superior da Magistratura, órgão independente criado em 2016 para nomear juízes, a quem acusa de "parcialidade".
No dia 13 do mesmo mês, anuncia que este Conselho será substituído por outro órgão "temporário", ficando com o poder de demitir juízes e proibi-los de fazer greve. Quase 60 magistrados são afastados em junho.
DISSOLUÇÃO DO PARLAMENTO
A 30 de março, Kais Saied anuncia a dissolução do Parlamento, poucas horas depois de os deputados desafiarem a suspensão organizando uma sessão virtual.
A 22 de abril, o Presidente assume o direito de nomear o chefe da Autoridade Eleitoral e respetivos membros.
PROJETO DE CONSTITUIÇÃO
A 20 de maio, o Presidente nomeia um familiar, Sadok Belaïd, para chefiar uma comissão encarregada de redigir uma nova Constituição, sujeita a referendo.
A 3 de julho, Sadok Belaïd considerou que o projeto tornado público pela presidência não correspondia ao elaborado pela comissão e que a sua aprovação poderia "abrir caminho a um regime ditatorial".
Na noite de 8 para 9 do mesmo mês, Kais Saied publica uma versão corrigida que modifica dois artigos polémicos sobre o lugar do Islão e as possíveis restrições às liberdades.
NOVA FASE
A 25 de julho, os tunisinos aprovam a nova Constituição por referendo. O "sim" vence com 94,6%, enquanto a participação é de apenas 30,5% dos inscritos.
Sem esperar pelos resultados oficiais, Saied proclamou antes do amanhecer do dia 26 a entrada da Tunísia numa "nova fase" política.
BOICOTE ÀS LEGISLATIVAS
Em setembro, a Frente de Salvação Nacional (FSN), uma coligação de partidos de oposição que inclui o Ennahdha, anuncia que vai boicotar as eleições legislativas, marcadas para 17 de dezembro.
Cinco outros partidos de oposição seguem o exemplo.
O sistema de votação limita consideravelmente o papel dos partidos políticos e do Parlamento.
MANIFESTAÇÕES
A 15 de outubro, duas manifestações, incluindo uma da FSN, reuniram cerca de 2.500 pessoas em Tunes, responsabilizando o Presidente pela grave crise económica.
No início de dezembro, o chefe da União Geral dos Trabalhadores da Tunísia (UGTT) - influente entidade sindical, co-vencedora do Prémio Nobel da Paz em 2015 - criticou o novo sistema de votação, sublinhando que as eleições não terão "nem gosto nem cor".
Uma semana antes da primeira votação, várias centenas de tunisinos marcharam novamente em Tunes, a pedido da FSN, para exigir a saída do Presidente.
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