Covid-19: China quer agora pessoas com poucos sintomas a trabalhar
Vários governos regionais na China encorajaram hoje as pessoas com casos ligeiros de covid-19 a deslocarem-se para os locais de trabalho, numa mudança radical em relação à política de "zero casos" seguida até recentemente.
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Mundo Covid-19
A cidade de Guiyang (sudoeste) anunciou que pessoas infetadas com poucos ou nenhuns sintomas devem ir trabalhar numa série de setores, incluindo serviços governamentais, empresas estatais, saúde, serviços de emergência médica, serviços de entregas e supermercados, noticiou a agência norte-americana AP.
O anúncio seguiu-se a outros semelhantes das cidades de Wuhu e Chongqing, no início desta semana, numa aparente resposta à escassez de trabalhadores que afetou os cuidados médicos e as entregas de alimentos.
As novas medidas refletem também a dificuldade em reanimar uma economia que foi estrangulada por restrições pandémicas e que, agora que foram levantadas, está a ser abrandada por trabalhadores que adoecem.
As autoridades sanitárias anunciaram hoje a morte de cinco pessoas nas últimas 24 horas, alimentando a preocupação de que o número de mortos poderá aumentar acentuadamente após ter sido decidido levantar a maioria das restrições da política "covid zero".
Os números oficiais poderão não corresponder à realidade, até porque vários crematórios contactados hoje pela agência francesa AFP disseram que se registou um número acentuado de mortes no país.
A China sempre defendeu que a sua política restritiva de "covid zero", com confinamentos em massa, quarentenas e testes obrigatórios, permitiu manter um número relativamente baixo de casos e mortes.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a China comunicou mais de 10 milhões de casos de infeção e 31.309 mortes entre 02 de janeiro de 2020 e 19 de dezembro (segunda-feira).
A nível global, a doença respiratória provocou mais de 6,6 milhões de mortos em quase 650 milhões de casos de infeção, segundo números da OMS.
A política adotada pela China para conter a pandemia colocou a sociedade chinesa e a economia nacional sob enorme pressão e suscitou raros protestos antigovernamentais.
Aparentemente, o estado da economia e os protestos convenceram o Partido Comunista Chinês (PCC), no poder desde 1949, a alterar a sua estratégia.
Agora, relatórios não oficiais sugerem uma onda generalizada de novos casos, e familiares de vítimas e pessoas que trabalham no negócio funerário têm dito que as mortes ligadas à covid-19 estão a aumentar.
Wang Guangfa, médico do Departamento Respiratório do Primeiro Hospital da Universidade de Pequim, alertou as autoridades para um pico de casos graves nas próximas uma ou duas semanas, segundo a AP.
"A atual onda de infeções assemelha-se a um tsunami epidémico", disse Wang num artigo de perguntas e respostas publicado 'online' esta semana.
Wang disse também que o norte da China terá uma taxa de casos graves mais elevada do que a parte sul devido ao clima frio.
Os casos de doença grave e morte atingirão em grande parte os idosos ou aqueles que não receberam doses de reforço de vacinas, disse o virologista Gagandeep Kang, do Christian Medical College, em Vellore, Índia.
A China vacinou 90,3% da sua população, mas apenas deu uma dose de reforço a 60,5%.
As autoridades precisam de dar prioridade aos mais velhos, especialmente àqueles com mais de 60 anos, para evitar um grande número de mortes, disse Kang.
Com as pessoas a testar e a recuperar em casa, a China disse que já não era possível manter uma contagem precisa dos novos casos, tornando substancialmente mais difícil avaliar o estado da atual onda de infeção e a sua direção.
Além do reforço da vacinação de idosos, a outra grande preocupação é o reforço dos recursos de saúde nas cidades mais pequenas e no vasto interior rural antes das festividades do Ano Novo Lunar de janeiro, que verá os trabalhadores migrantes regressarem às cidades de origem.
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