"Culpar o Ruanda (pela instabilidade) reflete a falta de vontade da comunidade internacional em confrontar as causas profundas do conflito no leste da RDCongo e exigir uma verdadeira responsabilidade dos atores estatais e não estatais que são responsáveis desse fracasso", disse o Governo do Ruanda num comunicado.
Para Kigali, "acusar o Ruanda de apoiar o grupo armado da RDCongo M23 é incorreto e desvia a atenção da verdadeira causa do conflito em curso no leste da RDCongo e do seu impacto na segurança dos países vizinhos, incluindo o Ruanda".
As autoridades ruandesas lamentaram que "não tenha havido responsabilização" do Governo da RDCongo por "não enfrentar" a mais de uma centena de grupos armados que lutam nas províncias ocidentais do RDCongo ou por ter divulgado mensagens de ódio e incitação à violência contra a comunidade tutsi, conforme refletido em alguns relatórios das Nações Unidas.
No seu comunicado, o Governo ruandês destaca o fracasso da missão de paz das Nações Unidas na RDCongo (Monusco), que não conseguiu acabar com a violência apesar de estar no país há mais de 23 anos, e pede à comunidade internacional que colabore com a repatriação de ex-combatentes do M23 que, depois de deporem as armas, "definham" em campos de refugiados do Ruanda.
O Ruanda respondeu assim às mensagens da França e da Alemanha, que na terça-feira se juntaram ao Governo da RDCongo para acusar publicamente Kigali de apoiar as intensas batalhas do M23 contra as posições do Exército da RDCongo.
Desde março passado, quando os rebeldes reiniciaram as hostilidades após anos de calmaria, o M23 assumiu o controlo de inúmeras áreas no leste da RDCongo e os combates forçaram mais de 450.000 civis a fugir das suas casas, segundo os mais recentes relatórios das Nações Unidas.
Em agosto passado um relatório de um especialista da ONU apontou para a cooperação do Ruanda com os rebeldes, mas Kigali sempre negou a alegação.
Pelo contrário, Kigali, bem como o M23, acusam o Exército da RDCongo de se aliar aos rebeldes das Forças Democráticas de Libertação do Ruanda (FDLR), fundadas em 2000 por líderes do genocídio de 1994 e outros ruandeses exilados na RDCongo que tentam recuperar o poder político no seu país de origem.
A ONU também confirmou esta colaboração entre a RDCongo e a FDLR.
O M23 foi criado em 2012, quando soldados da RDCongo se revoltaram pela perda do poder do seu líder, Bosco Ntaganda, acusado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por crimes de guerra e por supostas violações do acordo de paz assinado em 23 de março de 2009, data que os rebeldes escolheram para a sua designação.
O grupo exigiu a renegociação daquele acordo assinado pelos guerrilheiros do Congresso Nacional Congolês para a Defesa do Povo (CNDP) para a sua integração no Exército, a fim de melhorar as suas condições.
O CNDP, formado principalmente por tutsis (grupo que sofreu em grande medida com o genocídio no Ruanda em 1994), foi formado em 2006 para, entre outros objetivos, combater os hutus das FDLR.
O leste da RDCongo está mergulhado num conflito alimentado por milícias rebeldes e pelo Exército há mais de duas décadas, apesar da presença da Monusco.
A ausência de alternativas e meios de subsistência estáveis ??levou milhares de cidadãos da RDCongo a pegar em armas e, de acordo com o 'think tank' Barómetro de Segurança do Kivu (KST, na sigla em inglês), o leste da RDCongo é o campo de batalha de mais de 120 grupos rebeldes.
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