Putin termina "ano de fracassos" com "mais crueldade contra civis"
Na ótica de Stoltenberg, o chefe de Estado russo "cometeu dois grandes erros estratégicos quando lançou sua brutal invasão", tendo não só "subestimado a Ucrânia", como também a NATO.
© Getty Imagens
Mundo Ucrânia/Rússia
Com o ano de 2022 prestes a chegar ao fim, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, resumiu os últimos 10 meses de guerra na Ucrânia, considerando que o presidente russo, Vladimir Putin, teve um “ano de fracassos”, no qual não só infligiu “crueldade contra civis”, como “subestimou a unidade da NATO” e da Ucrânia.
“O ano de 2022 tem sido o mais desafiador para a segurança europeia desde a Segunda Guerra Mundial. Também foi um ano extraordinariamente doloroso para o povo da Ucrânia. Para o presidente Vladimir Putin, foi um ano de fracassos colossais”, começou por escrever Stoltenberg, num artigo de opinião publicado no jornal Financial Times, na quinta-feira.
Na ótica do responsável, o chefe de Estado russo “cometeu dois grandes erros estratégicos quando lançou sua brutal invasão”, tendo, num primeiro momento, “subestimado a Ucrânia”.
“Pensou que poderia tomar Kyiv e decapitar o governo em poucos dias. Dez meses depois, o povo ucraniano, as forças armadas e a liderança continuam a defender a sua pátria com habilidade, coragem e determinação que inspiram o mundo. Dezenas de milhares de soldados russos foram feridos ou mortos. Cerca de um milhão de pessoas deixaram a Rússia desde o início do ano, muitas para evitar serem recrutadas para uma guerra em que não acreditam. Essa guerra de escolha deixou a Rússia mais pobre e mais isolada do que em décadas”, disse, atirando que o segundo erro passou por “subestimar a unidade da NATO”.
“Pensou que poderia dividir-nos e impedir-nos de apoiar a Ucrânia. Embora a NATO não faça parte deste conflito, os aliados estão mais unidos do que nunca em fornecer assistência militar sem precedentes para apoiar o direito de autodefesa da Ucrânia, consagrado na carta da Organização das Nações Unidas, e ajudá-la a permanecer um país livre e democrático”, complementou Stoltenberg, recordando que desde de 2014 que países como o Canadá, o Reino Unido e os Estados Unidos treinam soldados ucranianos e apoiam a reforma das forças armadas daquele país, face à tomada da Crimeia.
Nessa linha, o secretário-geral da NATO notou que, se Putin pretendia ter menos territórios da Aliança Atlântica ‘à sua porta’, a ofensiva que lançou na Ucrânia gerou o efeito contrário, proporcionando o alcance de uma “NATO mais forte e maior”, não só através do aumento da sua presença no flanco Oriental e da prontidão das suas forças, como também através da adesão de novos países, nomeadamente a Finlândia e a Suécia.
“Putin está a terminar este ano de fracassos com mais crueldade contra civis, cidades, infraestruturas e instalações de saúde ucranianas. Ataques deliberados a civis são crimes de guerra e os autores devem ser responsabilizados. Cerca de 12 milhões de pessoas, mais de um quarto da população da Ucrânia, foram cortadas do fornecimento de energia. Milhões de ucranianos fugiram para o exterior. Muitos, incluindo crianças, foram deportados à força para a Rússia. Apesar da negação por parte da Rússia, as autoridades ucranianas e especialistas internacionais estão a investigar muitos relatos de que membros das forças russas cometeram violações, torturaram e realizaram execuções sumárias”, acrescentou, referindo ainda que Moscovo pretende obter armamento através de outros “regimes autoritários, como o Irão”, para congelar a guerra e “reorganizar-se”.
“O presidente Volodymyr Zelenskyy propôs à Rússia dar início à retirada das suas tropas até ao Natal, como um passo para acabar com o conflito, mas Moscovo rejeitou [a proposta]. Foi Putin quem começou a guerra. Pode acabar com ela hoje, saindo da Ucrânia. De momento, não mostra sinais de que procura paz verdadeira”, lançou Stoltenberg, apelando para que “não nos esqueçamos de que o que acontece na mesa de negociações está intrinsecamente ligado ao que acontece no campo de batalha”.
“Temos de continuar a apoiar a Ucrânia, para que possa prevalecer um estado soberano e independente na Europa”, disse, justificando que, “se Putin prevalecer na Ucrânia, a mensagem para a Rússia – e para outros regimes autoritários – será que a força conseguirá o que querem”, o que seria “uma catástrofe para a Ucrânia” e “tornaria o mundo inteiro mais perigoso”.
Stoltenberg rematou, assim, que é do interesse da Aliança manter o “apoio à Ucrânia neste inverno, e pelo tempo que for necessário”, assegurando que a NATO defenderá “cada centímetro do território aliado”.
“E estaremos ao lado da Ucrânia, pelo seu futuro e pelo nosso”, garantiu.
De notar que, segundo o The Wall Street Journal, as autoridades ucranianas estão a trabalhar numa proposta de 10 pontos para colocar um ponto final ao conflito de forma pacífica, que poderá vir a ser apresentada em fevereiro de 2023.
Recorde-se ainda que, no âmbito da visita do chefe de Estado ucraniano à Casa Branca, o homólogo norte-americano, Joe Biden, garantiu que os Estados Unidos defendem uma "paz justa" para a Ucrânia, mantendo, por isso, o apoio militar, concretamente para defesa aérea.
Lançada a 24 de fevereiro, a ofensiva militar russa na Ucrânia já provocou a fuga de mais de 14 milhões de pessoas, segundo dados os mais recentes da Organização as Nações Unidas (ONU), que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A entidade confirmou ainda que já morreram 6.755 civis desde o início da guerra e 10.607 ficaram feridos, sublinhando, contudo, que estes números estão muito aquém dos reais.
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