"Temos que nos libertar do pensamento convencional em matéria de Defesa", frisou Lee Hsi-ming, que é também investigador no Project 2049 Institute, grupo de reflexão com sede em Washington, destacando que a ilha, de quase 24 milhões de habitantes, deve manter "prontidão de combate", face a um conflito que considera "iminente".
Em entrevista à Lusa, concedida no 'campus' da Universidade Nacional de Chengchi, localizado no sul de Taipé, o militar admitiu um aumento da preocupação em Taiwan com questões de defesa e segurança, após a invasão da Ucrânia pela Rússia, e destacou a importância de apostar em estratégias de guerra assimétrica para resistir a uma potencial ofensiva da China.
Capacidades de combate assimétrico incluem o uso de sistemas de armas menores ou não convencionais, que são estrategicamente implantadas contra um inimigo muito maior. Este modelo tem sido usado na resistência e contraofensivas ucranianas.
A guerra simétrica, que continua a dominar a política de defesa de Taiwan, envolve o uso de armas maiores, como caças, sistemas de mísseis de longo alcance e embarcações navais.
Lee Hsi-ming defendeu o fornecimento de drones ("veículos aéreos não tripulados"), foguetes antitanque, granadas e outras armas pequenas à sociedade de Taiwan, junto com treino militar, para resistir a uma potencial ofensiva por parte da China.
"Espero que o governo considere a criação de uma força de defesa nacional", afirmou o almirante. "A população de Taiwan pode ajudar os militares a resistir", acrescentou.
China e Taiwan vivem como dois territórios autónomos desde 1949, altura em que o antigo governo nacionalista chinês se refugiou na ilha, após a derrota na guerra civil frente aos comunistas. Pequim considera a ilha parte do seu território e ameaça a reunificação através da força, caso Taipé declare formalmente a independência.
Nos últimos anos, as incursões de jatos da Força Aérea chinesa no espaço aéreo de Taiwan intensificaram-se e, após a presidente da Câmara dos Representantes norte-americana, Nancy Pelosi, se deslocar a Taiwan - a visita de mais alto nível realizada pelos Estados Unidos à ilha em 25 anos - Pequim lançou exercícios militares numa escala sem precedentes, que incluíram o lançamento de mísseis e o uso de fogo real.
O Presidente chinês, Xi Jinping, afirmou já que a "reunificação" de Taiwan não pode continuar a ser adiada.
Lee Hsi-ming frisou que Taiwan ocupa um papel central na visão do "grande rejuvenescimento" da nação chinesa, promovida por Xi, o líder chinês mais forte desde o fundador da República Popular da China, Mao Zedong.
"Xi Jinping quer ficar na História como um grande líder e Taiwan serviria como o seu legado", observou. "Os taiwaneses não devem pensar se a China vai tentar uma invasão, mas antes quando é que vai tentar", advertiu.
O esforço de mais de duas décadas da China para modernizar o seu Exército criou um forte desequilíbrio de forças entre Pequim e Taipé. Em 2021, a China gastou 270 mil milhões de dólares nas suas Forças Armadas - um valor 21 vezes superior aos gastos realizados por Taipé, de acordo com o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo.
Apesar desta lacuna nos recursos da Defesa, Taiwan poderia defender-se "efectivamente" se se focasse em negar o acesso aos seus espaços aéreos e marítimos, em vez de almejar controlar esses espaços, realçou o almirante. Um formato de guerrilha poderia explorar as fraquezas da força invasora, descreveu.
A líder do território, Tsai Ing-wen, já começou, no entanto, a advertir o público que vai ser necessário um esforço de toda a sociedade para defender a ilha. No mês passado, anunciou que vai estender o serviço militar obrigatório de quatro meses para um ano, a partir de 2024.
"Ninguém quer a guerra... mas, meus compatriotas, a paz não cairá do céu", apontou então.
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