Se as conferências climáticas já foram alvo de vários críticas por parte de organizações ambientais, que as consideram pouco ambiciosas, a forma como os líderes mundiais chegam a estas conferências tem sido também atacada pelos ambientalistas.
Um relatório divulgado esta sexta-feira pela consultora ambiental neerlandesa CE Delft concluiu que as emissões tóxicas lançadas jatos privados quadruplicou durante o Fórum Económico Mundial de 2022, que voltou a realizar-se presencialmente, em Davos (Suíça).
O relatório surge na semana anterior aos líderes mundiais e empresariais voltarem a Davos em jatos privados, para discutir a economia global e, quase certamente, voltar a abordar os desafios das alterações climáticas e as respostas dos governos.
No ano passado, mais de mil jatos privados entraram e saíram dos aeroportos em torno da cidade, localizada no coração dos Alpes, nos cantões mais a leste da Suíça.
Ao jornal britânico The Guardian, uma ativista e coordenadora de mobilidade europeia da Greenpeace, Klara Maria Schenk, afirmou que "os ricos e poderosos vão a Davos para discutir o clima e a desigualdade à porta fechada, usando a forma mais desigual e poluente de transporte". "Entretanto, a Europa está a atravessar os dias de janeiro mais quentes alguma vez registados e as comunidades pelo mundo estão a aguentar meteorológicos extremos, potenciados pela crise climática", acrescentou.
The rich and powerful are swarming to Davos to discuss climate and inequality behind closed doors, using the most unequal and polluting form of transport: private jets.
— Greenpeace (@Greenpeace) January 13, 2023
Do we really believe that these are the people to solve the problems the world faces?#wef23 #FightInequality https://t.co/0HQkU7CSJU
O The Guardian diz, citando o relatório, que 53% dos voos que chegaram aos aeroportos perto de Davos foram voos curtos, de distâncias inferiores a 750 quilómetros, distâncias que podiam ser feitas com recurso a carros ou mesmo ao avançado sistema ferroviário suíço. A sugestão é ainda mais veemente para os 38% de voos que cobriram uma distância inferior a 500 quilómetros.
O voo mais curto em direção a Davos foi de cerca de 20 quilómetros.
As emissões de jatos privados não são reguladas pela União Europeia, afirma a Greenpeace, apesar de esta ser a forma de transporte mais poluente do mundo, per capita.
Klara Maria Schenk argumentou que o uso de jatos privados devia ser banido, especialmente porque "80% da população mundial nunca viajou de avião, mas sofre as consequências de emissões danosas da aviação", referindo ainda que o Fórum Económico Mundial "diz estar comprometido em atingir o objetivo de 1.5º C do Acordo de Paris".
"Este festim anual de jatos privados é uma palestra insensível em hipocrisia", atirou.
O uso de jatos privados por parte de celebridades, políticos e outras personalidades tem sido criticado a nível mundial em várias plataformas. No Twitter, existiam páginas que davam conta das curtíssimas distâncias e voos que alguns famosos apanhavam nos seus jatos - alguns dos alvos mais atacados eram Taylor Swift e Elon Musk, sendo que o último acusou estas páginas de expor a sua localização e baniu-as.
Também no mundo do futebol houve casos de críticas relativas ao uso de aviões, quando o Paris Saint German usou o meio aéreo para jogar numa cidade onde era possível chegar via comboio de alta velocidade. Confrontado com esta questão, o treinador do PSG ironizou e respondeu que a equipa iria equacionar o barco à vela nos próximos jogos.
Recentemente, o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, foi acusado de hipocrisia relativamente aos objetivos climáticos do país, ao usar o dinheiro dos contribuintes para viajar de Londres a Leeds, uma distância de 320 quilómetros, num jato da Força Aérea.
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