"Durante trinta anos, investigadores e magistrados trabalharam todos os dias para tentar capturar esse criminoso e a prisão de hoje mostra que o seu trabalho não foi em vão", disse à Lusa o antigo diretor do semanário l'Espresso, escritor e autor de vários livros dedicados ao "patrão dos patrões".
Denaro, o chefe da máfia siciliana que foi detido hoje pelas autoridades italianas, é acusado de ser o instigador de vários homicídios e massacres que marcaram a Itália durante décadas.
Entre as vítimas de massacres atribuídos a Denaro, estão os magistrados Giovanni Falcone e Paolo Borsellino, assassinados em 1992, que são vistos como exemplos por muitos italianos, principalmente no setor judicial, e cujas fotografias estão penduradas nos escritórios de juízes ou promotores públicos.
Denaro foi detido hoje de manhã na capital da Sicília, Palermo, numa clínica para doentes com cancro onde deveria receber tratamento.
Grupos de operações especiais dos 'Carabinieri' fecharam as estradas em torno da clínica antes de a tomarem de assalto.
O chefe da máfia siciliana tentou uma breve fuga através do bar do edifício, mas desistiu quando percebeu que estava cercado.
As luzes e as sirenes dos carros de polícia atraíram dezenas de pessoas que aplaudiram os agentes policiais envolvidos na operação, que se abraçaram quando o carro celular levou Denaro.
Procurado desde a década de 90, Matteo Messina Denaro conseguiu ficar escondido graças a uma rede de contatos e ajudas que lhe garantiram a fuga durante todos esses anos.
"Bernardo Provenzano (ex-chefe da Cosa Nostra) foi preso após 43 anos foragido. Não devemos nos surpreender hoje, porque a rede de segurança [de Denaro] era densa e composta não apenas por cidadãos comuns, mas por empresários e políticos, pessoas que com o seu poder conseguiram esconder esses mafiosos por todos esses anos", explica Abbate.
Nos últimos anos, os investigadores prenderam dezenas de pessoas acusadas de terem dado proteção a Messina Denaro, mas nenhuma delas jamais forneceu elementos significativos para a sua captura.
"Agora temos que entender quem deu proteção a Messina Denaro, porque uma ausência tão longa certamente tem muitos responsáveis por trás dela que combinaram o uso de 'pizzini' (pequenas notas de papel usadas para se comunicar) com ferramentas de negócios modernas", disse Rosy Bindi, ex-presidente da comissão parlamentar antimáfia.
A primeira-ministra Giorgia Meloni, que foi hoje a Palermo para se encontrar com os magistrados e polícias que contribuíram para a prisão, considerou-a "uma grande vitória do Estado, que mostra que não se rende à máfia".
Abbate afirmou que o facto de a prisão ter ocorrido durante a presidência do Conselho Meloni é uma coincidência: "Esta não é uma vitória do governo. É um sucesso dos investigadores e magistrados que o procuraram todos estes anos. A vontade de prendê-lo não mudou de governo para governo".
Agora, a esperança de investigadores, políticos e analistas é que Matteo Messina Denaro possa colaborar com a Justiça.
"Ele guarda muitos segredos ligados à temporada de massacres na Itália, sobretudo com membros infiéis do Estado", disse Paolo Borrometi, jornalista ameaçado pela máfia e colocado sob escolta policial.
"A dura prisão que o espera (a destinada aos chefes da máfia) e suas condições de saúde talvez o levem a colaborar com a justiça para obter concessões. Acho que tudo depende das condições de saúde mental em que ele se encontra", concluiu Abbate.
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