Chefe da máfia detido na Sicília é criminoso "afável, mas sanguinário"
O chefe da 'Cosa Nostra' hoje detido na Sicília teve dezenas de apelidos durante três décadas em fuga, cada um deles contando uma parcela da personalidade de um homem considerado "afável mas sanguinário".
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Mundo Itália
Matteo Messina Denaro era o chefe da máfia siciliana e entre os seus cognomes está "u siccu", que quer dizer "o magro" em dialeto siciliano, e "u signurinu", ou "o cavalheiro", pela polidez que demonstrava.
Na clínica de Palermo onde foi hoje preso, os médicos disseram que o homem que conheciam como Andrea Bonafede, nome que constava nos documentos falsos, "era muito gentil" e "muitas vezes oferecia azeite", produto típico de Castelvetrano, a sua cidade natal.
"A sua bondade muitas vezes trai a sua verdadeira alma, que é a de um criminoso sanguinário que espalhou a morte na Sicília e em toda a Itália. Ele não só foi o comandante dos massacres que mataram os magistrados Giovanni Falcone e Paolo Borsellino, mas também organizou os massacres em Roma, Florença e Milão que causaram 10 mortos e 90 feridos", disse à Lusa Lirio Abbate, ex-diretor do semanário l'Espresso e escritor de vários livros sobre o patrão da máfia.
Os massacres citados pelo jornalista faziam parte de uma estratégia que também atingiu objetivos culturais do país com a intenção de enfraquecer o Estado e assim levá-lo a fazer frente à Máfia.
"Alguns arrependidos disseram que Messina Denaro se gabou do número de assassinatos que cometeu. Ele disse que com todas as mortes que provocou, um cemitério inteiro poderia ter sido preenchido. Os apurados pela justiça neste momento são 40", acrescentou Abate.
Um dos assassinatos cometidos por Denaro que mais chocou a opinião pública italiana foi o de Giuseppe Di Matteo, um menino de 12 anos que foi sequestrado em 1993, mantido em cativeiro por dois anos e depois morto e dissolvido em ácido.
Era filho de um ex-mafioso que decidiu colaborar com a justiça.
Ao longo dos anos, o seu negócio expandiu-se para vários setores, alguns invulgares para uma organização criminosa, desde os homicídios a soldo, a energia eólica, pedreiras, hipermercados e aldeamentos turísticos.
"Nos últimos anos, Messina Denaro tentou trazer a Cosa Nostra de volta ao tráfico internacional de cocaína, do qual a 'Ndrangheta, a máfia calabresa, foi o mestre por vários anos na Itália. Ele não era apenas violento e sanguinário, mas também sábio e calmo quando a Cosa Nostra recorreu à estratégia de submersão e invisibilidade, no sentido de que a certa altura a Máfia pensou que quanto menos mortes causasse, mais poderia funcionar sem ter que lidar com as forças da ordem", acrescentou o jornalista.
Nos últimos anos, o chefe da máfia foi procurado nos Estados Unidos e na África, especulando-se que poderia ter-se submetido a uma cirurgia plástica para mudar o seu aspeto.
Um arrependido da organização criminosa disse que Denaro se tinha submetido a uma cirurgia ocular numa clínica em Barcelona antes de voltar para a Sicília, onde hoje foi preso.
Matteo Messina Denaro tem 60 anos e um cancro de cólon que andava a tratar desde o ano passado.
Os 'carabinieri' que o prenderam relataram que ele usava roupas de marca e tinha um relógio no valor de 35.000 euros no pulso.
Não foi revelado para que prisão será ser conduzido mas os magistrados sublinharam que será imediatamente colocado no regime 41 bis, a dura prisão destinada a mafiosos, que prevê confinamento solitário, vigilância 24 horas por dia e limitações nas visitas.
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