Face à indecisão da Alemanha, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Polónia, Paweł Jabłoński, apontou, esta sexta-feira, que o país poderá "tomar decisões fora do normal" e fornecer os tanques Leopard 2 à Ucrânia, mesmo sem a luz verde alemã.
“Se houver forte resistência, estaremos prontos para tomar ações fora do normal, mesmo que alguém se ofenda com isso, mas não vamos antecipar-nos aos factos. Vamos tentar garantir que o maior número possível de países, juntamente connosco, tem um impacto efetivo na Alemanha”, disse, em entrevista à rádio polaca RMF FM.
Na ótica do responsável, “é disso que se trata a diplomacia”.
“Às vezes, os nossos parceiros nem sempre querem realizar certas ações, mas se forem submetidos a vários tipos de persuasão, pressão, podem mudar de ideias, como já aconteceu”, considerou.
Questionado quanto à possibilidade de o aumento de ajuda militar à Ucrânia significar que o Ocidente dispõe de informações sobre um eventual ataque a Kyiv, Jabłoński foi taxativo: “Daquilo que posso dizer publicamente, uma coisa deve ficar clara - não podemos descartar absolutamente nada”, salientou.
“A Rússia tem, certamente, intenções muito agressivas. Se permitirmos que tenha uma vantagem sobre a Ucrânia e possa atacar, certamente que o vai fazer. Não acho que facto de os tanques serem entregues seja motivo de preocupação. Se há algo que nos preocupa é a indecisão de fornecer equipamento. Mas é bom que comece a surgir essa mobilização, porque quanto mais cedo transferirmos mais tanques para a Ucrânia, mais segura também ficará a Polónia”, esclareceu.
Ainda assim, o vice-ministro admitiu que há “um risco sério” de a Rússia atacar outras partes da Ucrânia, uma vez que “está constantemente a mobilizar recrutas”.
“Embora todos consigamos ver que a qualidade do exército russo não é das melhores, os números são grandes e, com esses números, a Rússia pode simplesmente compensar as suas deficiências técnicas”, apontou, considerando que a indecisão da Alemanha quanto ao fornecimento de tanques Leopard 2 passa por “questões de simpatia”.
“Muitas pessoas têm muita vergonha disso mas, na realidade, agem de forma a não causar muito dano à Rússia”, por o país ter “influenciado as esferas política, industrial, e empresarial” daquele país.
Contudo, o responsável considerou que o presidente russo, Vladimir Putin, “não precisa de provocações”.
“Se alguma coisa provoca Putin, é a fraqueza. Vimos isso nestes 11 meses. Putin atacou a Ucrânia, convencido de que a Ucrânia era fraca, e que não receberia apoio. Contava com a sorte. No entanto, age de tal forma que apenas a força pode detê-lo”, disse, rematando que “a Ucrânia está a defender-se e tem todo o direito”.
De notar que o primeiro-ministro da Polónia, Mateusz Morawiecki, indicou, na quinta-feira, que o país poderia enviar os tanques Leopard 2, que são fabricados na Alemanha, sem a aprovação daquele país.
“O consentimento é de importância secundária, ou obtemos esse consentimento rapidamente ou faremos o que for necessário”, reforçou, citado pela agência Reuters.
Recorde-se ainda que o Grupo de Contacto para a Ucrânia criado e liderado pelos Estados Unidos e que integra cerca de 50 países reúne-se, esta sexta-feira, na base aérea norte-americana de Ramstein, na Alemanha, para coordenar o fornecimento de mais ajuda a Kyiv.
A questão dos tanques Leopard 2 pesa sobre o novo ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, que tomou posse esta semana e reuniu-se na quinta-feira, pela primeira vez, com o seu homólogo norte-americano. Após o encontro, Boris Pistorius insistiu que não haveria "decisões unilaterais" do lado alemão.
Lançada a 24 de fevereiro, a ofensiva militar russa na Ucrânia já provocou a fuga de mais de 14 milhões de pessoas, segundo os dados mais recentes da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A entidade confirmou ainda que já morreram 6.952 civis desde o início da guerra e 11.144 ficaram feridos, sublinhando, contudo, que estes números estão muito aquém dos reais.
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