O secretário-geral da ONU considerou que numa altura em que assinala quase um ano de conflito na Ucrânia as condições para que o conflito termine. "Neste momento, não há condições para negociação da paz", notou António Guterres, numa entrevista à RTP, emitida esta segunda-feira.
"Aquilo que nós, Nações Unidas, temos procurado fazer, para além de ajuda humanitária, é a exportação de alimentos, em aspetos como a evacuação de Azovstal, pondo os nossos bons ofícios ao serviço da minimização de aspetos humanitários em relação ao povo ucraniano e em aspetos económicos em relação à situação global", explicou.
Guterres considerou que a ONU tem sido bem sucedida nesta "minimização" de que falou, mas repetiu que as condições para fim da guerra não estavam perto.
Questionado sobre se o prolongamento da guerra não era uma situação que o preocupava, o secretário-geral da ONU foi perentório: "Muito preocupado. Corremos o risco desta guerra se protelar e espero sinceramente que possamos encontrar uma solução até ao final de 2023. Mas, no momento presente, essa solução não está à vista", repetiu.
Ainda quanto à intervenção dos Estados Unidos e de outras nações, Guterres recordou que "este conflito inicia-se com uma invasão por parte da Federação Russa e essa invasão é contra a carta das Nações Unidas, contrária ao Direito Internacional, na medida em que se traduz numa violação da integridade territorial da Ucrânia".
O antigo primeiro-ministro abordou também o possível "descrédito dos políticos", que tem vindo a ser reforçado pelas consequências da guerra na Ucrânia, nomeadamente devido ao aumento do custo de vida. "Não é apenas em relação à guerra. Há um problema de confiança nas instituições, nos sistemas políticos, um problema de ameaça ao funcionamento das sociedades democráticas que deve ser enfrentado e importa que aqueles que têm responsabilidades saibam reestabelecer confiança", apontou.
Tem sido um tempo particularmente difícil
Face não só à guerra na Ucrânia, como também à pandemia de Covid-19, Guterres foi falou sobre as dificuldades que tem enfrentado como líder da ONU. "Tem sido um tempo particularmente difícil. Não se pode esquecer que o país que é o parceiro mais importante em termos financeiros são os Estados Unidos - que passaram por uma situação em que o multilateralismo foi posto em causa. Depois tivemos a Covid, depois a guerra na Ucrânia. Tem sido uma época de particular dificuldade", afirmou, referindo que esta é mais uma razão para haver um reforço dos mecanismos das instituições democráticas.
O responsável referiu ainda que África, que tem vindo a ser afetado pelo conflito, "tem uma grande resiliência" face às atuais dificuldades económicas. Sublinhou, no entanto, a importância de pactos levados a cabo pelo organismo que lidera.
"Se há continente que tem sofrido com a guerra na Ucrânia é o continente africano", considerou, sublinhando que é também neste continente que existem muitos problemas, nomeadamente, em relação ao terrorismo. "Se não nos organizarmos para dar um apoio efetivo neste domínio, vamos ter impactos que se generalizarão por todo o mundo", rematou.
[Notícia atualizada às 22h54]
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