"Na terça-feira (...) recebemos formalmente a denúncia, por parte do governo burquinabê, do acordo de 2018 relativo ao estatuto das forças francesas presentes neste país. De acordo com os termos do acordo, a denúncia produz efeitos um mês após o recebimento da notificação por escrito. Respeitaremos os termos deste acordo ao dar seguimento a este pedido", disse a porta-voz.
Na passada segunda-feira, o Quai d'Orsay tinha anunciado que aguardava esclarecimentos do Presidente do governo de transição do Burkina Faso sobre o pedido do seu Ministério dos Negócios Estrangeiros para a saída das tropas francesas no prazo de um mês.
"Recebemos a nota verbal [do ministério do Burkina Faso] transmitida à nossa embaixada", disse a porta-voz do Quai d'Orsay, Anne-Claire Legendre, à agência AFP, através de uma declaração escrita.
"Como o Presidente da República [Emmanuel Macron] afirmou ontem [domingo], estamos à espera que o Presidente da transição no Burkina Faso, Ibrahim Traore, esclareça o alcance desta nota", acrescentou.
O porta-voz do governo do Burquina Faso, Jean-Emmanuel Ouédraogo, tinha afirmado, numa entrevista à Radio-Télévision du Burkina (RTB), que o que estava a ser denunciado era "o acordo que permite que as forças francesas estejam presentes no Burkina Faso".
"Isto não é o fim das relações diplomáticas entre o Burkina Faso e a França", disse.
O Burkina Faso acolhe atualmente um contingente de cerca de 400 forças especiais francesas, que integram a Operação Sabre.
Desdobradas no Sahel há 14 anos, o contingente da Operação Sabre é atualmente o maior destacamento militar de forças especiais francesas fora do país.
Baseada perto de Ouagadougou, este contingente operou contra os fundamentalistas islâmicos em toda a faixa sahelo-saariana, mas a sua área de exercício começou a diminuir após a retirada do exército francês em 2022 do Mali.
Criada em 2009, a Força Temporária Sabre foi destacada para responder a uma série de sequestros e um ataque à embaixada francesa na Mauritânia.
O primeiro destacamento foi enviado para a Mauritânia, depois para o Níger e o Burkina Faso para defender os interesses franceses e intervir em caso de tomada de reféns, segundo o jornalista Jean-Marc Tanguy, autor de várias obras das forças especiais francesas, citado pela AFP.
Presente em vários países do Sahel, a força Sabre acabou por se estabelecer na base de Kamboinsin, nos arredores de Ouagadougou.
Depois do Mali e da República Centro-Africana (RCA), em 2022, segue-se agora a retirada de tropas especiais francesas do Burkina Faso.
À semelhança dos outros dois países, o Burkina Faso iniciou a partir do golpe de Estado de setembro de 2022 uma aproximação à Rússia, com Paris a acusar Ouagadougou de ter concluído um acordo com o grupo paramilitar russo Wagner.
Mais de nove anos depois de serem recebidos no Mali como "salvadores" face à atividade armada de movimentos fundamentalistas islâmicos, os soldados franceses concluíram a sua retirada do país em 15 de agosto de 2022.
A retirada foi ordenada em 17 de fevereiro pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, devido à deterioração das relações com a junta militar no poder em Bamaco e perante a crescente hostilidade da opinião pública do Mali.
Cerca de 2.400 soldados franceses estavam estacionados no Mali.
Quatro meses após a retirada do Mali, os últimos 47 soldados franceses destacados na República Centro-Africana deixaram em 15 de dezembro de 2022 o aeroporto de Bangui.
A maior parte dos 130 militares que compunham o contingente havia deixado o país nas semanas anteriores.
Esta retirada foi decidida por Paris em junho de 2021, face ao crescente protagonismo da Wagner no país, em guerra civil desde 2013.
A França considera Bangui "cúmplice" de uma campanha anti-francesa guiada pela Rússia.
Paris acusa os paramilitares russos de cometerem abusos contra a população civil e de terem instaurado um regime de "predação" dos recursos da RCA.
A ex-potência colonial havia destacado em 2013 mais de mil soldados na República Centro-Africana como parte da Operação Sangaris, com luz verde da ONU, para acabar com a violência intercomunitária.
Um total de 1.600 militares franceses integravam a Operação Sangaris, que terminou em 2016.
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