"Não tenham medo de serem testemunhas da misericórdia e da reconciliação diante da violência desencadeada, não só pelos recursos e pelos conflitos étnicos e tribais, mas também e sobretudo pela força obscura do maligno, inimigo de Deus e do homem", disse o Papa na sede da Conferência Episcopal da RDCongo, onde chegou na terça-feira.
No encontro com Francisco estavam os 65 bispos da RDCongo que representam as 47 dioceses de um país com uma população de cerca de 95 milhões de pessoas, metade das quais católicas.
"Convosco irmãos, vejo Jesus, que sofre com a história deste povo crucificado e oprimido, devastado por uma violência impiedosa, marcado por uma dor inocente, obrigado a conviver com as águas turvas da corrupção e da injustiça que contaminam a sociedade e que levam ao sofrimento de tantas crianças", afirmou.
"Mas, ao mesmo tempo, vejo um povo que não perdeu a esperança, que abraça com entusiasmo a fé e olha para os seus pastores", acrescentou.
Nesta viagem, Francisco fez inúmeros apelos à deposição de armas na zona oriental do país, região onde tinha planeado deslocar-se, mas que devido à eclosão dos combates teve de cancelar.
Segundo um relatório da organização Save The Children, publicado durante esta visita papal, mais de 122.000 pessoas, incluindo 65.000 crianças, fugiram das suas casas entre 24 e 25 de janeiro devido aos combates entre os rebeldes do Movimento 23 de Março (M23) e o Exército nos arredores de Kitshanga, a cerca de 60 quilómetros a oeste de Goma, capital da província de Kivu do Norte.
Desde o recomeço dos combates com o M23 em março passado, após anos de acalmia, os insurgentes ocuparam áreas e locais estratégicos na RDCongo e o medo da violência obrigou a mais de meio milhão de pessoas a abandonarem as suas casas, segundo a ONU.
Cerca de 5,5 milhões de pessoas estão deslocadas na República Democrática do Congo, segundo a Agência das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR).
Francisco viajará hoje para o Sudão do Sul e será acompanhado pelo líder da Igreja Anglicana, o arcebispo de Canterbury, Justin Welby, e o moderador da Assembleia Geral da Igreja Presbiteriana da Escócia, Iain Greenshields, para reforçar o acordo de paz implementado no país em 2018.
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