"Um soldado da ATMIS [Missão de Transição da União Africana na Somália] num veículo militar com o logótipo da UA a patrulhar no cruzamento de El-Gaab, na estrada para o Palácio Presidencial em Mogadíscio [conhecido como Villa Somália], abriu fogo sobre um jovem sentado à beira da estrada", relatou Ibrahim Hirsi, que estava presente na altura do incidente, à agência Efe.
Segundo Hirsi, os soldados da UA aproximaram-se do sem-abrigo e tentaram disparar contra ele com a metralhadora presa à parte superior do seu veículo, mas quando a arma não funcionou, um militar "puxou da sua AK-47 [espingarda] e disparou contra o jovem", chamado Hussein Osman.
Osman, conhecido na vizinhança, "era jovem, inofensivo e estava desarmado quando foi baleado", acrescentou Hirsi.
"Ouvi os tiros e vi o jovem no chão, a sangrar muito. Os tiros vieram das tropas estrangeiras", afirmou outra testemunha, Abdullahi Hassan, que disse ter visto o soldado com a arma na mão depois do disparo.
"Todos se reuniram à volta do corpo. As pessoas estavam zangadas e algumas não conseguiam conter a sua emoção. Foi aí que começaram a queimar pneus e a protestar contra a matança", contou.
Um dos manifestantes, Abdilatif Jama, disse: "Eles têm de nos ouvir. Não podem disparar sobre civis inocentes como animais".
O porta-voz da polícia, Sadik Duudishe, confirmou por telefone à Efe o incidente e disse que foi aberta uma investigação e marcada uma reunião entre a família da vítima e os representantes da ATMIS.
A ATMIS substituiu a anterior missão da UA na Somália, conhecida como AMISON, em abril passado, com o objetivo de continuar a apoiar as autoridades somalis na sua luta contra o grupo terrorista Al-Shebab e de reconstruir as instituições governamentais no país.
A operação, que foi lançada em 2007 e está a ser realizada sob a aprovação do Conselho de Segurança das Nações Unidas, tem cerca de 19.000 soldados do Burundi, Jibuti, Etiópia, Quénia e Uganda que, de acordo com um plano, deverão ser retirados progressivamente até dezembro de 2024.
A Somália vive num estado de guerra e caos desde 1991, quando, após o derrube do ditador Mohamed Siad Barre, o país ficou sem governo efetivo e nas mãos de milícias e senhores da guerra islâmicos.
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