As vítimas morreram espezinhadas em Seul em outubro do ano passado, durante os festejos do Halloween ("Dia das Bruxas", na tradição norte-americana) que decorreram pela primeira vez em 2022 sem as restrições impostas durante a crise sanitária.
Para os deputados da oposição, o ministro do Interior e da Segurança, Lee Sang-min, é responsável pelas falhas no planeamento dos festejos e pela falta de coordenação necessária na resposta aos efeitos do incidente.
O pedido de impugnação suspende imediatamente Lee de todas as funções governativas, mas o Tribunal Constitucional da Coreia do Sul tem ainda 180 dias para decidir o afastamento definitivo ou a reintegração no cargo.
Entretanto, o vice-ministro Han Chang-seob vai desempenhar as funções de ministro até à decisão final do Tribunal Constitucional.
Lee é apontado como um aliado importante do Chefe de Estado conservador, Yoon Suk Yeol.
O gabinete do Presidente reagiu de forma ríspida à votação parlamentar, acusando os deputados da oposição de "abandono dos princípios legislativos" e de criarem "uma narrativa vergonhosa".
O ministro do Interior disse num comunicado que lamenta a votação do Parlamento (179 votos a favor da impugnação e 109 votos contra), frisando que vai defender-se junto do Tribunal Constitucional.
"Espero que o vazio da tutela relacionada com a segurança pública não venha a criar um precedente", acrescentou Lee.
Trata-se da primeira vez que a Assembleia Nacional da Coreia do Sul vota a impugnação de um ministro.
O parlamento já tinha aprovado a impugnação da ex-Chefe de Estado Park Geun-hye (conservadora) em 2016.
Três meses depois da decisão, Park Geun-hye foi formalmente afastada do cargo de Chefe de Estado pelo Tribunal Constitucional e presa na sequência de um escândalo de corrupção.
O pedido de impugnação evidencia o impasse que o Presidente Yoon enfrenta face a um Parlamento controlado pelos liberais, na oposição, podendo aprofundar ainda mais a crise política na Coreia do Sul.
A votação sobre a impugnação ocorre poucas semanas depois de a polícia ter apresentado várias acusações sobre "homicídio involuntário e negligência" contra 23 responsáveis governamentais, metade dos quais são oficiais da Polícia.
A acusação refere que são acusados de negligência pela "falta de medidas de segurança" que não conseguiram evitar a formação de uma multidão na zona de diversão noturna de Itaewon, bairro de Yongsan, Seul, na noite dos festejos do Halloween.
Após 74 dias de investigação após o incidente, a Polícia Nacional concluiu que os responsáveis pela segurança pública do bairro de Yongsan falharam ao não aplicarem medidas de controlo da multidão e ignoraram os receios manifestados pelos cidadãos em mensagens transmitidas às autoridades pelo telefone, poucas horas antes do início dos festejos.
O relatório da Polícia Nacional refere também que as autoridades não conseguiram estabelecer corredores de segurança junto de um beco perto do Hotel Hamilton, onde se concentrou o maior ajuntamento de pessoas na noite de 28 de outubro do ano passado.
Mesmo assim, o relatório policial foi criticado pelos deputados da oposição que considera "demasiado brando" com os membros do Executivo, como Lee, e o chefe da Polícia Nacional, Yoon Hee-keun.
Lee é criticado por não ter antecipado a dimensão dos festejos, tendo destacado apenas 137 agentes para um local onde eram esperadas 100 mil pessoas.
Por outro lado, as ordens policiais referiam-se ao controlo de estupefacientes, tendo-se verificado desinteresse sobre a mobilidade tendo em conta o número elevado de participantes.
Especialistas sul coreanos, ouvidos pela oposição, dizem que a tragédia foi um "erro humano" que podia ter sido evitado com medidas simples da polícia através de vias de passagem para peões e o encerramento temporário da estação de metropolitano de Itaewon, evitando o fluxo de pessoas na mesma direção.
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