ONG diz que regime sírio continua a atacar rebeldes em zonas afetadas

 Uma organização não-governamental turco-síria denunciou, esta quarta-feira, que o regime sírio de Bashar al-Assad continua a bombardear posições dos rebeldes sírios mesmo depois de estas terem sido afetadas pelos sismos registados na segunda-feira no noroeste da Síria e na Turquia.

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Lusa
08/02/2023 15:08 ‧ 08/02/2023 por Lusa

Mundo

Sismo na Turquia

"Chegam-nos relatos que dão conta de que há zonas afetadas pelo terramoto e que estão a ser bombardeadas pelo regime sírio. A crueldade do regime sírio continua, não deixa apoiar [as populações afetadas] e tem estado a bloquear todo o tipo de apoios internacionais", disse à agência Lusa Fatih Sanli, diretor executivo da organização não-governamental (ONG) turca SOLARIS, que atua também no norte e noroeste da Síria.

As acusações de Fatih Sanli, entrevistado pela Lusa por telefone, não foram ainda confirmadas por fontes independentes.

"[O apoio às populações sírias] só pode chegar através do regime sírio. Sabemos o que aconteceu no passado. Tal como aconteceu no passado, o regime sírio não vai permitir que nada chegue às pessoas que mais necessitam. Nessas zonas tudo está bloqueado, tudo está muito difícil", acrescentou Fatih Sanli, igualmente consultor de direitos humanos em várias ONG e institutos sírios e turcos.

Para o diretor executivo da SOLARIS, organização que congrega um grupo de cidadãos preocupados com uma visão global para uma mudança sustentável no mundo, os sismos de magnitude, primeiro de 7,8 e, depois, de 7,5, na escala de Richter que assolaram a região são os "mais mortíferos" desde 1800, tal como lhe indicaram vários especialistas em sismologia.

"É muito mau. O número de pessoas afetadas é muito maior que a população inteira de Portugal. Só na Turquia são 13 milhões e mais de cinco a seis milhões na Síria. Há zonas na Síria em que ainda ninguém conseguiu chegar e o mesmo se passa em áreas na Turquia", sublinhou.

Apesar de a situação na Turquia estar melhor organizada do que na Síria, o número de mortos nos dois países será "bastante superior" aos cerca de 8.600 já anunciados por Ancara e aos mais de 2.660 na Síria, observou Fatih Sanli.

O responsável pela SOLARIS admitiu poderem ser verdadeiras as várias estimativas de especialistas que dão conta de que ainda estarão sob os escombros mais de 40.000 pessoas só na Turquia, não havendo indicações sobre esse mesmo número na Síria.

 "Infelizmente, é um número maior de mortes do que no sismo de 1999 que aconteceu na Turquia. É mesmo muito, muito mau. Há muitos desaparecidos. Estima-se que mais de 40.000 pessoas estejam sob os escombros na Turquia nas localidades próximas da cidade de Kahramanmaras, onde foi registado o epicentro do sismo, que estão praticamente destruídas", adiantou.

Fatih Sanli elogiou a pronta ajuda da comunidade internacional, mas lamentou a chegada tardia das equipas e dos equipamentos de busca e salvação, que chegarão já depois das primeiras 72 horas pós os abalos, "críticas para salvar vidas".

"Há também os problemas do tempo. Está frio, está a nevar, chove em muitas zonas e há temperaturas abaixo de zero, o que também não ajuda nada", acrescentou o responsável da SOLARIS, que indicou ter voluntários da organização no terreno para ajudar a minorar os problemas com que se debatem os sobreviventes, que ficaram sem nada.

"Mas ainda há muito a fazer sobretudo na parte síria [controlada pelos que combatem o regime de Bashar al-Assad]. A única organização que está no terreno a apoiar as pessoas é a ligada aos 'Capacetes Brancos' [os socorristas voluntários nas zonas rebeldes na Síria]. Seja na Síria seja na Turquia, já foi feita muita coisa, mas ainda é insuficiente. E poderá haver ainda sobreviventes sob os escombros, mas é muito difícil saber", disse.

Para os sobreviventes, pediu Fatih Sanli, é necessário "muita coisa" -- "precisam de muitas coisas, os bebés, as crianças e, como está frio, é preciso aquecimento, roupas, sapatos, comida (conservas), tal como os voluntários que estão no terreno".

"Na Turquia a situação é muito melhor do que na Síria. Há hospitais, clínicas, médicos e enfermeiros. As Forças Armadas chegaram tarde, mas começaram agora a apoiar as operações no terreno, com alimentação e alojamento, que é o mais necessário", acrescentou.

O diretor executivo da SOLARIS apelou também ao povo português para enviar bens materiais para a Síria.

"Na semana passada, estivemos em Portugal [em conjunto com o diretor e fundador do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), Fadel Abdul Ghany] a falar da guerra e dos crimes contra a humanidade cometidos na Síria, que continuam, e agora vem esta catástrofe que vem piorar ainda mais a situação", lamentou.

Leia Também: Especialista em catástrofes diz que número de vítimas de sismos vai subir

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