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'Poeira' do sismo revela rasto de crianças órfãs na Síria

Face ao número de vítimas mortais e de sobreviventes que, até hoje, são encontrados, os profissionais de saúde dizem ser impossível prever o número de crianças órfãs.

'Poeira' do sismo revela rasto de crianças órfãs na Síria
Notícias ao Minuto

23:20 - 09/02/23 por Notícias ao Minuto

Mundo Sismo

A bebé nascida nos escombros de um prédio na cidade de Jinderis, localizada no distrito de Idlib, na Síria, tem, finalmente, um nome. Aya, árabe para “sinal de Deus”, ficará ao cuidado de um tio-avô, depois de ter perdido os pais e os irmãos no sismo que assolou tanto o seu país, como a Turquia, no início da semana.

Aya é apenas uma das crianças órfãs que, com o assentar da ‘poeira’ do desastre natural, se veem sem os entes queridos, obrigando familiares a dar-lhes as boas-vindas nas suas casas, também elas desfeitas. Face ao número de vítimas mortais e de sobreviventes que, até hoje, são encontrados, os profissionais de saúde dizem ser impossível prever o número de crianças órfãs, segundo a Associated Press.

No caso de Aya, será o tio do seu pai, Salah al-Badran, quem ficará encarregue de a acolher, quando tiver alta hospitalar. No entanto, a sua residência em Jinderis ficou destruída, estando a sua família de 11 pessoas a viver numa tenda.

A recém-nascida foi descoberta durante a tarde de segunda-feira, mais de 10 horas depois do sismo ter abalado a região. Soterrada nos escombros do edifício de cinco andares onde os seus pais residiam, Aya ainda estava ligada à mãe através do cordão umbilical. Tanto a mãe, identificada como Afraa Abu Hadiya, como o seu pai e os seus quatro irmãos perderam a vida.

“Demos-lhe o nome ‘Aya’, para pararmos de a chamar ‘bebé’”, disse o médico Hani Maarouf, clínico no hospital Cihan, para onde a recém-nascida foi transportada. O profissional de saúde considerou que Afraa Abu Hadiya terá dado à luz e morrido algumas horas antes ser descoberta, ainda ligada à filha.

Num hospital no noroeste da Síria, uma menina ruiva de sete anos perguntava repetidamente pelos seus pais. Jana al-Abdo terá sido a única sobrevivente do sismo, de acordo com o médico Khalil Alsfouk.

Jana foi encontrada na terça-feira, cerca de 30 horas depois do desastre natural, nos escombros da sua casa, em Harem, perto da fronteira com a Turquia. Os seus pais e irmãos perderam a vida. Mais tarde, uma tia terá acolhido a menina, que gritava de dor e de confusão.

A própria casa de Alsfouk terá ficado destruída, tendo a sua família encontrado abrigo nas residências de amigos. Há dias que o médico tratava crianças feridas, muitas das quais acabaram por não sobreviver.

“Toda a experiência foi horrível. É difícil conter a dor depois de tentar salvar uma criança, mas não conseguir”, disse.

Por seu turno, Muheeb Qaddour, chefe do departamento de saúde da província de Idlib, apontou que, agora, “as pessoas estão a começar a perceber que há muitas crianças sem família”.

“Há uma grande aceitação pela sociedade. Familiares distantes acolhem-os antes que vão para um orfanato. Infelizmente, só depois de a poeira do terramoto baixar é que as coisas ficam claras”, rematou.

O sismo de magnitude 7,8 na escala de Richter atingiu o sudeste da Turquia e o norte da vizinha Síria, tendo sido seguido de várias réplicas e de um novo terramoto de magnitude 7,5, que os especialistas disseram ter sido consequência do primeiro.

O mais recente balanço das autoridades dá conta de mais de 21 mil mortos na Turquia e na Síria, após o desastre natural que assolou ambos os países, no início da semana.

Cerca de 17.674 pessoas morreram na Turquia e 3.377 na Síria, elevando o total de vítimas mortais para 21.051, segundo a AFP.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que 23 milhões de pessoas estão "potencialmente expostas, incluindo cerca de cinco milhões de pessoas vulneráveis", depois de já ter referido que teme "balanços oito vezes maiores que os números iniciais".

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, já na segunda-feira tinha declarado três meses de estado de emergência nas dez províncias afetadas, sublinhando que estes terramotos representam o maior desastre natural sofrido no país desde o sismo de 1939 em Erzincan, no leste da Turquia, que fez mais de 32 mil mortos.

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