"Parem as operações nas cidades da Turquia. Decidimos não realizar nenhuma iniciativa até que o Estado turco nos ataque", disse Cemil Bayik, alto funcionário do movimento, citado pela agência Firat, próxima do PKK, que é considerado uma organização terrorista de Ancara.
"A nossa decisão será válida até que a dor de nosso povo seja aliviada e as suas feridas cicatrizadas", acrescentou o responsável, sem especificar uma data.
O Exército turco tinha intensificado nos últimos meses as suas operações contra o PKK, tanto no sudeste do país como no norte do Iraque, ambos de maioria curda, desde que o cessar-fogo foi rompido entre o Governo e o grupo armado, em julho de 2015.
Bayik destacou o "grande desastre" provocado pela série de sismos que ocorreram e afirmou que a população "está em circunstâncias muito difíceis nas áreas afetadas".
"Em particular, as pessoas sofrem muito mais por causa das políticas aplicadas pelos invasores e Estado turco assassino", denunciou.
Cemil Bayik transmitiu igualmente condolências às famílias das vítimas e lamentou que "milhares de pessoas ainda estejam sob os escombros".
"Estamos no inverno. Está a chover e está frio. Se não forem resgatados o mais rápido possível, podem morrer de frio. Todos devem mobilizar todos os seus recursos. Todos devem mobilizar-se para salvar nosso povo. Todos, especialmente as instituições democráticas", destacou.
"Infelizmente, terramotos acontecem em todo o mundo. O importante é que muitos países estão a tomar precauções contra sismos para sofrer menos danos e perdas", explicou o alto funcionário do PKK, que disse que na Turquia nenhuma medida é tomada.
Nesse sentido, lembrou que o governante Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), do Presidente turco, Recep Tayyp Erdogan, "está no poder há 20 anos, a gerir o Estado".
"Deveria ter tomado precauções, mas o AKP não agiu. Não agiu em favor da população. Há anos que cobram impostos para prevenir danos maiores nos terramotos, mas ninguém sabe o que aconteceu com eles", afirmou.
"O Estado turco usou todos os meios para massacrar o povo curdo no Curdistão. Gastou milhões de dólares nisso", denunciou o responsável, acusando: "durante o seu mandato, (o AKP) cometeu roubo, corrupção e saques e tornou os ricos cada vez mais ricos e o povo cada vez mais pobre".
Bayik deu ainda o exemplo do Japão: "Não há tantos edifícios a desabar e não há tantas mortes porque eles abordam o risco com seriedade e tomam precauções. É por isso que não há tanta dor quando ocorre um abalo".
Enfatizou ainda que, se Ancara tivesse tomado "precauções", não haveria "milhares de prédios destruídos e cidades e vilas arruinadas".
Por outro lado, criticou a decisão do Parlamento de aprovar o estado de emergência por 10 meses nas 10 províncias afetadas pelos sismos, muitas das quais abrigam uma significativa população curda, e destacou que o objetivo é "cobrir até o terremoto".
"O Governo quer reprimir a dor e as lágrimas do povo para que a dor e o choro não cheguem mais longe", argumentou, acrescentando: "Mobilizaram a imprensa para que ninguém saiba o que está a acontecer e estão a desenvolver propaganda para enganar as pessoas do mundo".
"Escondem muita gente. Fazem parecer que estão a ajudar as pessoas em todos os lugares, mas é mentira. Os media independentes revelarão as suas mentiras. Querem evitar que as pessoas enviem ajuda às áreas afetadas e querem evitar a cooperação entre os povos", afirmou.
Acusou ainda o Governo de querer "colocar a ajuda enviada pelo povo e de outras partes do mundo ao seu serviço".
"Os curdos e os turcos devem continuar a cooperar de todas as maneiras possíveis e não permitir que o governo atrapalhe", disse Bayik, segundo a agência EFE, que cita informações divulgadas pela agência curda de notícias ANF, próxima do grupo armado.
As autoridades turcas elevaram esta sexta-feira para mais de 18.300 mortos o balanço dos sismos de segunda-feira, enquanto na Síria morreram cerca de 3.300 pessoas, segundo os últimos balanços fornecidos pelo Governo sírio e pela Defesa Civil síria, conhecidos como 'capacetes brancos' e que operam nas áreas controladas pelos rebeldes no noroeste.
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