Uma reforma e a expansão do Conselho de Segurança, frequentemente considerado obsoleto, já vêm sendo pedidas há vários anos, mas sempre sem sucesso, por falta de consenso entre os seus cinco membros permanentes (P5) - China, França, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos da América (EUA).
Questionado pela Lusa sobre se os países P5 realmente têm vontade de reformar o Conselho de Segurança, Hoxha, cujo país é membro não-permanente deste órgão da ONU, respondeu que "não".
"A resposta simples será não, porque eles estão divididos na sua abordagem, estão divididos nos seus interesses e estão divididos no que querem. A reforma do Conselho de Segurança começou há quase três décadas. (...) É um produto de outro tempo, de outra situação, de outro mundo, de outra ONU. Logo, claro que precisamos de reformar o Conselho, mas não encontramos a fórmula", reconheceu.
De acordo com o diplomata da Albânia, que juntamente com os EUA é codetentor do dossier do conflito na Ucrânia, não estão claras as vantagens de ser ampliado o número de membros permanentes do Conselho de Segurança, apesar de não restarem dúvidas de que uma mudança precisa de acontecer.
"Precisamos de ampliar o Conselho, mas isso torná-lo-á mais eficiente? Mais produtivo? Alguns países querem ser [membros] permanentes porque acham que a situação mudou. Não contestamos essa ideia, mas não sabemos como seria o Conselho com mais membros permanentes. Com cinco já é complicado. E com nove, dez, onze... Seria melhor? Nós não sabemos. Essa é uma das contradições que temos", advogou.
Em entrevista à Lusa no Conselho de Segurança, em Nova Iorque, o representante do pequeno país balcânico de 2,8 milhões de habitantes indicou que mais importante que a alargar o número de membros, é reformar o poder de veto, detido pelos P5.
"A questão mais importante é o veto, porque tem impedido o Conselho de ser realmente atuante, de funcionar quando o mundo precisava. E se encontrarmos uma forma de reformar o veto, restringi-lo em determinadas situações, ou apenas ter o compromisso dos cinco membros permanentes de não usar o veto em situações de crimes maciços, de crimes contra a humanidade ou de crimes de guerra, estaríamos num mundo diferente, com um Conselho diferente, e provavelmente a reforma seria muito mais rápida", observou
"Uma coisa é certa: este Conselho não representa o mundo hoje! Mas não temos a fórmula", sublinhou.
Ao longo dos anos, o poder de veto tem sido uma das questões mais polémicas e alvo de vários pedidos de modificação. Esse tem sido, aliás, o mecanismo usado pela Rússia para impedir que o Conselho de Segurança atue contra si face à Guerra na Ucrânia.
Desde 1946, o veto foi usado quase 300 vezes, cerca de metade delas pela União Soviética ou pela Rússia, que herdou a sua cadeira.
Em geral, quase todos os países da ONU consideram necessário reformar o Conselho de Segurança, mas não há acordo sobre como fazê-lo, com diferentes propostas na mesa há anos.
Com a invasão da Ucrânia pela Rússia, há um ano, o mundo viu também o Conselho de Segurança a falhar o seu principal propósito: manter a paz e a segurança internacionais.
Para piorar a situação, juntou-se ainda o facto de a guerra ser desencadeada unilateralmente por um dos seus membros permanentes.
Ferit Hoxha, de 55 anos, destacou-se no Conselho de Segurança ao longo do último ano, usando sempre palavras acutilantes para criticar a atuação da Rússia.
Face às limitações que enfrenta, o representante do pequeno país balcânico disse que tem tentado usar o seu mandato para contrariar a narrativa da Rússia - de que a Ucrânia era a responsável pela invasão - e para tentar levar informação correta e precisa ao Conselho.
"Não esqueçamos que esta é a primeira vez que um membro permanente está em profundo conflito de interesses porque é uma guerra iniciada por ele, enquanto ele tem o poder de bloquear o Conselho. E quando o Conselho foi bloqueado neste conflito horrível, a questão foi transferida para a Assembleia Geral ou para o mundo", disse à Lusa.
"A ONU manteve-se firme. Todas as reuniões da Assembleia Geral concluíram com o mesmo resultado: condenar a Rússia, expor a Rússia, inclusive expulsando-a de lugares onde não pertence mais, como o Conselho de Direitos Humanos", frisou.
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