O alerta foi dado em Caracas pelo internacionalista Hildebrand Breuer Codecido, porta-voz do Grupo Apamate, uma ONG que tem como propósito "criar espaços de valor social, facilitando as interações entre líderes e atores democráticos sob esquemas associativos e de cooperação".
"Esse radicalismo deriva muitas vezes do não reconhecimento do outro, do não reconhecimento da situação concreta que o país está a viver. Muitas vezes está ancorado na arrogância e faz parte do ciclo de inércia em que muitos partidos e organizações políticas se encontram", disse à agência Lusa.
Segundo Hildebrand Breuer Codecido, essa "é uma explicação para que esse país que está lá fora, que sai todos os dias para trabalhar, que faz mil e uma coisas para poder levar comida para casa, não queira ter nada a ver" com "os partidos políticos, com os espaços que lhes são oferecidos num contexto como o venezuelano".
"A reconexão das pessoas com o público e com a política não acontecerá se não houver uma mudança genuína nas organizações. Por outras palavras, não é uma questão cosmética, que se faz de forma instrumental em um momento determinado porque há campanhas ou uma eleição", disse.
Para o porta-voz do Apamache, apesar de a oposição ter fixado a data de 22 de outubro para as eleições primárias em que se vai eleger o candidato único opositor às presidenciais de 2024, essa reconexão não acontecerá se não houver uma transformação real e genuína entre os distintos atores.
"Não dentro das organizações, porque sabemos que têm outras dinâmicas, muito mais complexas, mas pelo menos dentro de atores específicos que possam gerar essas interações em áreas distintas, não apenas dentro da própria oposição, onde também existem conflitos importantes, mas também dentro com aqueles sectores que estão vinculados ao partido no poder ou ao chavismo", explicou.
O internacionalista insistiu que a Venezuela "é um lugar-comum" dos venezuelanos, mas "uma verdade que ninguém pode discutir, é que o vai continuará a ser o país de todos".
"Somos todos venezuelanos, temos as mesmas histórias de vida, os mesmos pontos de referência, ou seja, temos muito potencial que podemos explorar para fazer essa reconexão mais além dos discursos e narrativas muito específicas, do tipo político, ideológico", frisou.
Essa transformação, acredita, acontecerá a médio e longo prazo, nos próximos 25 a 30 anos, insistindo que é preciso encontrar caminhos para solucionar problemas que são inegáveis.
"Não importa em que setor político alguém se encontre, existem problemas muito concretos na Venezuela e uma desigualdade que é cada vez maior", disse Hildebrand Breuer Codecido.
Por outro lado, insistiu que "há uma falta de confiança, no público, e muitos fatores que fazem da Venezuela um país com um nível de conflito muito importante, um conflito não democrático", sublinhando que é preciso transformá-lo para que seja possível gerir as diferenças.
O porta-voz do Apamate afirmou entender os venezuelanos que emigram, porque ele próprio "fugiu" da Venezuela em 2011 e regressou em 2014 quando havia escassez e longas filas para comprar comida.
"Posso compreender perfeitamente os venezuelanos que continuam a emigrar. De facto algumas universidades estão a fazer cursos curtos porque sabem que essa é a tendência e querem garantir que os jovens possam sair com um diploma em mãos sem esperar os tradicionais cinco anos", salientou, frisando que acredita que alguns se consolidaram nos países de acolhimento, como fizeram os portugueses, espanhóis e italianos.
Mas acredita que em algum momento "as gerações de venezuelanos que estão no estrangeiro, vão querer saber o que acontece na Venezuela e vão ver que conseguiu retomar o bom caminho em termos de gerir democraticamente os seus conflitos".
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