Detido mais um opositor e ex-ministro do partido Ennahdha na Tunísia

As forças de segurança tunisinas prenderam hoje o ex-ministro do Desenvolvimento e membro do partido islamita Ennahdha, Riadh Bettaieb, em mais um episódio na vaga de detenção de opositores ao regime do Presidente Kais Saied.

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Lusa
23/02/2023 16:56 ‧ 23/02/2023 por Lusa

Mundo

Tunísia

Segundo a imprensa local, Bettaieb, de 62 anos, foi detido no aeroporto da capital, Tunes, quando se preparava para embarcar com destino a França, desconhecendo-se ainda as razões e acusações associadas à detenção.

A prisão de Bettaieb é a quarta em menos de 24 horas, depois das dos também opositores Chaima Issa, Issam Chebbi e Ezzeddine Ben Mbarek Hazgui, este último pai do constitucionalista Jaouhar Ben Mbarek, quer se encontra em paradeiro desconhecido depois de a Polícia ter tentado prendê-lo na quarta-feira. 

Chaima Issa, Jaouhar Ben Mbarek e zzeddine Ben Mbarek Hazgui integram o movimento Frente de Salvação Nacional (FSN), formado por personalidades e partidos de diferentes quadrantes do espetro político contra o que consideram um "golpe de Estado" perpetrado por Saied após, em julho de 2021, ter destituído o primeiro-ministro e suspendido o Parlamento. 

Hoje, num comunicado, o líder do Ennahdha e ex-presidente do Parlamento tunisino, Rached Ghannouchi, acusou o regime do Saied de "assediar, perseguir e aterrorizar os críticos [ao Presidente] e as respetivas famílias" para desviar a atenção dos problemas económicos e sociais do país.

Ghannouchi, ele próprio a braços com cerca de uma dezena de processos abertos por supostos crimes de corrupção e terrorismo, pediu aos partidos da oposição, até agora impossibilitados de se unirem sob a mesma iniciativa, para que "unam forças para salvar o país".

"A verdadeira distinção hoje é entre democratas e anarquistas", defendeu.

Desde 11 deste mês que pelo menos 15 pessoas foram detidas por um suposto caso de "conspiração contra a segurança do Estado", incluindo o ex-ministro da Justiça e vice-presidente do partido islâmico Ennahda, Noureddine Bhiri, e o ex-líder do partido social-democrata Ettakatol, Jayam Turki.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos e o Parlamento Europeu reagiram à crescente perseguição de opositores na Tunísia e apelaram ao fim imediato dos processos militares contra civis, sobretudo contra dirigentes da oposição.

Como razão para as detenções, Saied acusa os dirigentes da oposição de serem responsáveis pelo encarecimento dos preços dos bens de primeira necessidade - como açúcar, café e leite, cada vez mais escassos, que os tunisinos têm vivido nos últimos meses.

No entanto, os especialistas explicam a crise pela falta de liquidez nos cofres públicos, à beira da falência, enquanto o Governo tem estado a negociar um novo empréstimo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) no valor de 1.900 milhões de dólares (1.795 milhões de euros).

Além de dirigentes políticos da oposição, o regime de Saied tem estado a ordenar a prisão de responsáveis de órgãos de comunicação social críticos do regime, com o caso mais recente a acontecer segunda-feira.

Noureddine Boutar, diretor da estação de rádio mais ouvida na Tunísia, a Mosaïque FM, foi detido, juntamente com nove figuras políticas, numa ação de repressão lançada pelas autoridades no início de fevereiro.

Boutar está a ser acusado de "lavagem de dinheiro e enriquecimento ilegal", denunciaram quarta-feira os advogados do diretor da rádio, que consideram que a detenção está associada a um "caso político", pois trata-se de uma retaliação a um programa crítico.

"As acusações são infundadas e não têm qualquer ligação com qualquer crime. Este caso é político por excelência", disse o advogado Ayoub Ghdamssi, salientando que Boutar é vítima de represálias por parte das autoridades pelo programa Midi-Show, "que incomoda as autoridades e lhes coloca um problema por causa das suas vozes livres que acreditam na liberdade de expressão".

Lançado em 2011, o Midi-Show, programa de sucesso da estação que passa em revista as notícias políticas na Tunísia, convida frequentemente convidados críticos das políticas de Saied.

A Amnistia Internacional (AI) chamou à recente vaga de detenções "uma tentativa deliberada de asfixiar a dissidência, incluindo a crítica ao Presidente", e exortou-o a "acabar com esta caça às bruxas por motivos políticos".

Leia Também: Denunciada detenção "política" de diretor de rádio privada na Tunísia

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