"Os Estados Unidos e os seus aliados estão a empreender uma campanha sem precedentes para isolar política e economicamente a Rússia, incluindo a interrupção da realização da segunda cimeira Rússia-África", denunciou o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros Mikhail Bogdanov, em entrevista à agência oficial TASS.
Bogdanov, um dos nove vice-ministros do chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, é também o representante especial do Presidente Vladimir Putin para o Médio Oriente e África.
O vice-ministro disse que essa campanha se intensificou desde que a Rússia invadiu a Ucrânia há um ano, no que Moscovo designa por "operação militar especial".
Desde então, "o 'Ocidente coletivo' aumentou significativamente a pressão sobre os países africanos através da ameaça de sanções e do fim da assistência financeira e humanitária", afirmou.
Bogdanov disse que os EUA fabricam acusações diárias contra a Rússia sobre aumentos dos preços dos combustíveis, dos cereais e de fertilizantes, tendo como resultado "um agravamento dos problemas socioeconómicos no continente" africano.
"A questão mais importante na agenda da cimeira será o problema de garantir a segurança alimentar e energética", afirmou.
Segundo Bogdanov, "o risco de os Estados ocidentais incitarem vários grupos armados a derrubar as atuais autoridades [em países africanos] é muito elevado".
"Paris, por exemplo, tem vindo a fazer tudo o que é possível há muito tempo para eliminar o governo de transição do Mali, que não lhe agrada", denunciou.
Referiu também o caso da República Centro-Africana (RCA), onde Portugal tem um contingente de mais de 200 militares em missões das Nações Unidas e da União Europeia.
Bogdanov disse que a França se está a retirar do país e que "há inúmeros relatos de que grupos armados ilegais que operam no território da RCA dependem, entre outras coisas, do apoio organizacional e financeiro dos antigos mestres coloniais".
"Recentemente, europeus foram vistos pela primeira vez entre os militantes, que, como a RCA acredita, podem ser instrutores ou mercenários ocidentais. Acreditamos que tais ações em relação aos Estados soberanos são inaceitáveis", afirmou Bogdanov.
A RCA caiu no caos e na violência em 2013, após o derrube do então Presidente, François Bozizé, por grupos armados, o que suscitou a oposição de outras milícias.
Desde então, o território centro-africano tem sido palco de confrontos entre estes grupos, que obrigaram quase um quarto dos 4,7 milhões de habitantes da RCA a abandonarem as suas casas.
Bogdanov disse que, apesar do comportamento ocidental, a Rússia permanecerá fiel ao seu "princípio da livre escolha do caminho de desenvolvimento dos países soberanos, que é a ideia chave da próxima segunda cimeira Rússia-África".
Referiu que os preparativos para a cimeira estão em curso e que a agenda "está a ser elaborada em conjunto com os africanos".
"Estamos a receber dos líderes dos Estados do continente a confirmação da participação na próxima cimeira, e isto é para nós um sinal de apoio de princípio de um bloco significativo de países, apesar da pressão colossal do Ocidente", disse, sem especificar que países vão participar.
O diplomata referiu ainda que as propostas dos países africanos para a cimeira correspondem à "visão conceptual" russa do futuro fórum.
"É dada prioridade à transferência de tecnologia e conhecimentos especializados, ao desenvolvimento da indústria e de infraestruturas críticas no continente", afirmou.
A primeira cimeira Rússia-África realizou-se na cidade de Sochi, na costa do Mar Negro, em outubro de 2019.
Leia Também: "NATO do lado da Ucrânia mas não fará parte da guerra", diz Alemanha