Moscovo anuncia fim das manobras navais com China e África do Sul

Os exercícios navais conjuntos Mosi II da armada russa, chinesa e sul-africana foram hoje concluídos em águas do oceano Índico, numa área entre os portos sul-africanos de Durban e Richards Bay, informou o Ministério da Defesa russo.

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Lusa
27/02/2023 14:59 ‧ 27/02/2023 por Lusa

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Ucrânia/1 ano

O programa dos exercícios incluiu a prática de tiro ao alvo de artilharia, respostas a ataques aéreos por um inimigo suspeito, ações antiterroristas, manobras táticas e assistência a um navio em perigo de afundamento.

A Rússia esteve representada pela fragata "Almirante Gorshkov" e pelo petroleiro "Kama".

Os exercícios centraram-se em tarefas para contrariar "ameaças à segurança no mar" e na "prontidão das forças das frotas para manter em conjunto a paz e a estabilidade regionais", informou o ministério russo.

"Durante três dias, os participantes nos exercícios praticaram a criação de um destacamento multinacional de navios de guerra na área estabelecida, movimentos táticos conjuntos em diferentes formações de combate, missões de defesa antiminas e disparos contra alvos que simulavam minas", informou a Marinha de guerra russa.

De acordo com a mesma entidade, os exercícios envolveram um helicóptero naval Ka-27 estacionado na fragata "Almirante Gorshkov".

As forças navais dos três países efetuaram pela primeira vez manobras conjuntas em novembro de 2019 ao largo da costa da Cidade do Cabo, tendo estes sido os segundos exercícios semelhantes, retomados após as restrições impostas pela pandemia de covid-19, e cujo calendário coincidiu com o aniversário da invasão russa da Ucrânia.

O Mosi II, de acordo com analistas internacionais, envia a mensagem clara de que, numa altura em que a Rússia é alvo de um conjunto largo de sanções pela violação de algumas das mais importantes convenções internacionais, três dos cinco países-membros dos BRICS -- Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul -- empenham-se em mostrar que a organização está bem de saúde e continua apostada em desenvolver o seu músculo de defesa e segurança.

Esta corrente de análise considera que o agrupamento económico das potências emergentes, num novo mundo geopolítico que aparentemente está a despontar, lança desafios importantes às estruturas de governação global lideradas pelos Estados Unidos da América e pela Europa.

A África do Sul assumiu em 01 de janeiro a presidência dos BRICS e já anunciou que espera a presença do Presidente russo, Vladimir Putin, na cimeira do bloco em agosto próximo, um mês depois da segunda cimeira Rússia-África, agendada para julho em Moscovo.

Analistas contactados pela Lusa consideraram que as manobras militares conjuntas denunciam a "inconsistência" do não-alinhamento reiterado por Pretória em relação à guerra da Ucrânia.

"A África do Sul passou de uma espécie de posição não-intervencionista para estar muito próxima de apoiar o comportamento russo na Ucrânia", considerou Tom Lodge, especialista em política africana e professor de Estudos de Paz e Conflitos, na Universidade de Limerick, Irlanda.

Segundo o investigador, "quando se começa a ter manobras militares conjuntas ao largo da costa da África Oriental com os russos - o exercício naval de 10 dias entre as três armadas, que hoje chegou ao fim -- a conversa dos sul-africanos quando se dizem não-alinhados parece inconsistente".

"Todos os países conduzem exercícios militares com amigos em todo o mundo. É o curso natural das relações", afirmou a chefe da diplomacia sul-africana, Naledi Pandor, quando em 23 de janeiro último recebeu em Pretória o seu homólogo russo, Sergei Lavrov.

A coincidência dos exercícios com o aniversário da invasão russa da Ucrânia, em 24 de fevereiro, é "demasiado simbólico", para que tenha acontecido ao acaso, na apreciação de Paul Nantulya, investigador do Africa Center for Strategic Studies (ACSS), um instituto de análise em Washington financiado pelo Congresso norte-americano, em declarações à Lusa.

De acordo com este investigador, Rússia, China e África do Sul partiram para estes exercícios com interesses específicos diferentes. A Rússia quis "tranquilizar os países africanos e dizer-lhes que ainda podem trabalhar com Moscovo em matéria de defesa, a China aproveitou a oportunidade para mostrar a África que a cooperação militar está de novo na ordem do dia, e a África do Sul demonstrou ao continente que pode juntar duas superpotências, o que é também uma mensagem muito poderosa".

A China demonstrou ainda ao mundo a disponibilidade para dar à Rússia "uma abertura no quadro do sistema internacional" e Moscovo demonstrou, pelo seu lado, que "mantém o controlo das suas relações e diplomacia internacionais", sublinhou Nantulya.

A participação no Mosi II da fragata russa "Almirante Gorshkov", armada com os mais recentes mísseis hipersónicos Zircon, uma arma que a Rússia diz poder penetrar qualquer defesa antimíssil e atingir alvos no mar e em terra, marcou simbolicamente os exercícios.

"Esta é uma arma muito violenta, que a Rússia tem vindo a utilizar na Ucrânia, e o facto do navio de guerra russo a transportar é também uma mensagem que Moscovo está a tentar enviar ao Ocidente e à Ucrânia", sublinhou Paul Nantulya.

Leia Também: Moscovo acusa Ocidente de estar a tentar boicotar cimeira Rússia-África

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