Aqueles dois países anunciaram esta sexta-feira que chegaram a um acordo para restabelecer as relações diplomáticas cortadas por Riade em 2016, após os ataques às suas sedes diplomáticas no país persa.
Nos últimos anos, as tensões entre o Irão [xiita] e a Arábia Saudita [sunita] aumentaram de tom, tendo sido agravadas quando, em 2018, Washington se retirou unilateralmente do acordo internacional sobre o programa nuclear do regime de Teerão.
Desde essa altura, o Irão foi responsabilizado por uma série de ataques contra a Arábia Saudita, incluindo um que teve como alvo um dos centros fulcrais da indústria petrolífera saudita, em 2019, que reduziu temporariamente para metade a produção de petróleo daquele país.
O acordo entre as duas potências no Médio Oriente foi assinado na China, onde as duas partes mantiveram negociações com o apoio de Pequim, segundo um comunicado conjunto dos três países.
Uma análise da agência Associated Press (AP), sobre os países afetados por este acordo, refere o Iémen, país onde quer a Arábia Saudita, quer o Irão, estão profundamente envolvidos na sua longa guerra civil.
A Arábia Saudita entrou no conflito em 2015, apoiando o Governo exilado do país, enquanto o Irão apoiou os rebeldes houthis, que em 2014 tomaram a capital, Sanaa.
Diplomatas têm procurado uma forma de encerrar o conflito, que gerou um dos piores desastres humanitários do mundo e que se transformou numa guerra por procuração entre Riade e Teerão.
O acordo saudita-iraniano pode dar um impulso aos esforços para acabar com o conflito.
Já no Líbano, há muito que o Irão apoia a poderosa milícia xiita libanesa Hezbollah, enquanto a Arábia Saudita apoia os políticos sunitas do país.
O alívio das tensões entre Riade e Teerão pode levar os dois a procurarem uma reconciliação política no Líbano, que enfrenta um colapso financeiro sem precedentes.
Por outro lado, na Síria, o Irão apoiou o Presidente sírio, Bashar al-Assad, na longa guerra civil deste país, enquanto a Arábia Saudita apoiou os rebeldes que procuram derrubá-lo.
No entanto, nos últimos meses, principalmente após o terremoto que devastou a Síria e a Turquia, as nações árabes aproximaram-se de Al-Assad.
O acordo diplomático desta sexta-feira pode tornar mais apelativo para Riade interagir com Al-Assad e fortalecer ainda mais a mão do autocrata.
Em Israel, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu pretendia normalizar as relações com a Arábia Saudita, mas o acordo de Riade com o Irão, inimigo dos israelitas de longa data, complicará essa hipótese.
O avanço diplomático também pode fazer Israel sentir-se mais sozinho, caso decida realizar um ataque militar contra o programa nuclear do Irão, à medida que este se aproxima dos níveis de armamento.
No 'outro lado do mundo', o Governo norte-americano liderado por Joe Biden sempre foi a favor de qualquer acordo que possa ajudar a reduzir as tensões no Médio Oriente, incluindo a retoma das relações entre Irão e Arábia Saudita.
No entanto, autoridades dos EUA sublinham que estão céticas de que o Irão irá honrar os seus compromissos e garantem que estão atentos.
O papel da China na mediação para esta reaproximação pode ser uma preocupação no que se refere à batalha entre Washington e Pequim pela influência na região e não só, mas as autoridades norte-americanas realçam que não está claro se os esforços chineses serão bem-sucedidos.
No próprio Irão, a República Islâmica tem enfrentado sanções internacionais severas perante o colapso do seu acordo nuclear de 2015 com as potências mundiais.
O acordo com a Arábia Saudita pode fornecer a Teerão novos caminhos para contornar as sanções, depois de já ter aprofundado laços com a Rússia e até armado Moscovo com 'drones' de ataque utilizados contra a Ucrânia.
Já na Arábia Saudita, o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman pretende gastar dezenas de milhões de dólares em megaprojetos para reformular o reino rico em petróleo perante as ameaças impostas pelas alterações climáticas.
Preocupações com ataques e conflitos regionais apenas colocaria esses projetos em dúvida.
Após o anúncio de hoje, vários países árabes expressaram satisfação com o acordo alcançado.
Também o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, saudou o acordo de restabelecimento das relações diplomáticas entre o Irão e a Arábia Saudita, agradecendo ainda à China por promover o diálogo entre os dois países.
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