Bakhmut, a batalha mais longa. Eis a cronologia dos últimos sete meses

Discutível na influência na guerra na Ucrânia, Bakmhut, no leste do país, tornou-se num ponto central numa batalha com mais de sete meses e milhares de baixas do lado russo e ucraniano, de que nenhuma das partes parece abdicar.

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© BULENT KILIC/AFP via Getty Images

Lusa
18/03/2023 14:50 ‧ 18/03/2023 por Lusa

Mundo

Ucrânia

Apesar de vários analistas apontarem a região de Bakhmut como pouco importante estrategicamente, outros veem-na como uma via de acesso russo ao controlo da província de Donetsk, anexada em setembro, ou como uma forma de desgaste das forças de Moscovo e seu grupo mercenário Wagner, antes de uma contraofensiva ucraniana esperada na primavera.

Esta é a batalha mais longa desde a invasão russa da Ucrânia, em 24 de fevereiro do ano passado, e da luta de Mariupol, no sul do país, numa luta sangrenta comparável aos últimos conflitos mundiais.

Cronologia dos principais acontecimentos da batalha de Bakhmut:

2022

Maio

17 - As forças russas bombardeiam a cidade, atingido um prédio residencial, com o resultado de um morto e uma criança gravemente ferida.

Julho

25 - Após vários bombardeamentos nos meses anteriores contra Bakhmut, as tropas russas começam a concentrar esforços para uma ofensiva nas cidades vizinhas de Siversk e Soledar.

Agosto

01 - Forças russas conduzem ataques terrestres no sul e sudeste de Bakhmut, mas sem sucesso.

04 - Após três dias de intensos bombardeamentos, o grupo mercenário pró-russo Wagner consegue romper as linhas de defesa ucranianas na periferia leste da cidade.

14 - Fontes russas e ucranianas admitem avanços em várias localidades perto de Bakhmut, em ataques liderados pelo Grupo Wagner, que se assume como a principal força de combate nesta frente.

Setembro

20 - Aleksey Nagin, comandante de um destacamento do Grupo Wagner é morto em combate.

28 - Começam a surgir notícias de reforços do Grupo Wagner, com recurso a prisioneiros na Rússia e nas regiões separatistas.

Novembro

29 - O Grupo Wagner acerca-se cada vez mais de Bakhmut, conquistando localidades vizinhas, apesar de forte resistência ucraniana, ao fim de meses de batalhas intensas e bombardeamentos russos incessantes.

Dezembro

07 - O Ministério da Defesa da Rússia afirma que as tropas ucranianas tentaram, sem sucesso, recuperar posições perdidas a sul de Bakhmut, sofrendo, segundo várias fontes russas, pesadas perdas.

12 - O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acusa Moscovo de destruir Bakhmut, admitindo que "a situação da linha de frente continua muito difícil" nas principais áreas do Donbass, no leste do país, onde desde há bastante tempo não "há lugar algum que não tenha sido danificado por bombardeamentos e tiroteios".

20 - Zelensky faz uma visita não anunciada a Bakhmut, na linha de frente, onde se reúne com as tropas e distribui condecorações aos soldados.

26 - O governador da província de Donetsk, Pavlo Kyrylenko, diz que mais de 60% das infraestruturas de Bakhmut foram parcialmente ou totalmente destruídas.

No mesmo dia, o comando militar do Exército ucraniano no Leste afirma que as áreas de Bakhmut e Avdiivka continuam a ser os locais das hostilidades mais pesadas e relata que houve 28 episódios de combates e 225 disparos de artilharia e tanques na região apenas em 24 horas.

2023

Janeiro

07- O fundador do Grupo Wagner e empresário com fortes relações com o Kremlin, Yevgeny Prigojine, afirma que "a cereja do bolo é o sistema das minas de Soledar e Bakhmut", acrescentando que, "na verdade, é uma rede de cidades subterrâneas, que não só tem a capacidade de manter um grande grupo de pessoas a uma profundidade de 80 a 100 metros, mas tanques e veículos de combate de infantaria".

12 - A ONU alerta para a situação dos civis que permanecem nas cidades ucranianas de Soledar e Bakhmut, frisando que, perante os intensos combates, as hipóteses de retirada ou assistência de 7.500 civis são muito reduzidas.

25 - As autoridades de Kiev reconhecem a perda de Soledar, depois de vários dias de anúncios da sua conquista pelo Grupo Wagner e negação ucraniana e após revezes russos nos últimos meses na frente de combate, o que aproxima as forças de Moscovo do cerco final de Bahkmut, a cerca de 20 quilómetros de distância, e aumenta a influência dos mercenários de Prigojine no decurso da guerra.

19 - O responsável do Grupo Wagner declara que as suas tropas tinham "coisas a aprender" com o Exército ucraniano, na batalha de Bakhmut, que "está a trabalhar de forma eficiente, coerente", numa batalha "metro a metro".

25 - A vice-ministra da Defesa ucraniana admite que a Rússia, em "superioridade numérica", continua a intensificar os ataques no leste da Ucrânia, no mesmo dia em que os aliados ocidentais anunciam o fornecimento de tanques pesados a Kiev.

Fevereiro

4 - O Presidente ucraniano reconhece que a ofensiva russa de inverno colocou as forças ucranianas em grandes dificuldades a leste: "Um momento em que o ocupante está a mobilizar as suas forças cada vez mais para quebrar a nossa defesa. Está muito difícil agora em Bakhmut, Vugledar, Lyman e noutras regiões", afirma.

11 - Yevgeny Prigojine prevê que a guerra se pode arrastar por vários anos. O líder do Grupo Wagner diz que pode levar de 18 meses a dois anos para a Rússia garantir o controlo total do coração industrial oriental da Ucrânia.

14 - Volodymyr Zelensky volta a reconhecer uma situação "extremamente difícil" na resistência às tropas russas, que vêm ganhando terreno nas últimas semanas, principalmente perto de Bakhmut. "Cada metro ganho é uma defesa de todo o nosso país. Cada dia que os nossos heróis resistem em Bakhmut, Vugledar, Maryinka e outras cidades e comunidades no Donbass significa a redução da agressão russa por semanas", declara.

16 - Prigojine começa a demonstrar descontentamento com as autoridades russas, referindo que a "monstruosa burocracia" de Moscovo está a impedir a conquista rápida da região de Bakhmut.

17 - A Ucrânia insta aos cerca de seis mil civil que, segundo as autoridades de Kiev, ainda se encontram em Bakhmut a abandonarem imediatamente a cidade

- Os EUA estimam que mais de 30 mil mercenários do grupo Wagner, apoiado pelos dirigentes da Federação Russa, morreram desde o início da invasão da Ucrânia pelos militares do Kremlin, segundo a Casa Branca. O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Presidência dos EUA, John Kirby, indica em conferência de imprensa que, dessas baixas, cerca de nove mil ocorreram desde meados de dezembro, com a intensificação da batalha por Bakhmut.

21 - Prigojine acusa o Estado-Maior russo de "traição" por recusar-se a fornecer equipamento aos seus mercenários, na linha da frente no leste da Ucrânia.

22 - O Ministério da Defesa russo considera "absolutamente falsas" as declarações do chefe do grupo mercenário Wagner de que o Exército parou de fornecer munições aos combatentes no Donbass.

27 - O Presidente ucraniano admite que a situação das tropas ucranianas em torno de Bakhmut "é cada vez mais complicada". "O inimigo destrói sistematicamente tudo o que pode ser usado para proteger as nossas posições", acrescentou Zelensky, classificando os soldados ucranianos empenhados nessa batalha como "verdadeiros heróis".

Março

04 - O ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, visita um "posto de comando" na frente de batalha no leste da Ucrânia.

06 - O portal de notícias ucraniano Kyiv Independent publica testemunhos de soldados ucranianos nas frentes de combate em Bakhmut, indicando que se sentem desprotegidos face à vaga de bombardeamentos e ataques russos.

- A presidência ucraniana garante que vai reforçar as suas posições em Bakhmut, o epicentro dos combates com as tropas russas, quando se especulava sobre uma eventual retirada das forças comandadas por Kiev.

- O líder do Grupo Wagner volta a reclamar por falta de munições, atribuindo os atrasos nas entregas a uma possível traição das autoridades de Moscovo, alertando que as tropas ucranianas vão defender a cidade sitiada "até ao fim".  

07 - As autoridades russas na região de Donetsk afirmam que as forças militares da Rússia controlam quase metade do território da cidade de Bakhmut.

08 - O chefe do grupo paramilitar russo Wagner diz que as suas tropas tomaram "toda a parte oeste" da cidade de Bakhmut.

- O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, admite que Bakhmut poderá cair "nos próximos dias" para as forças russas, insistindo que é preciso levar a sério a capacidade das Forças Armadas da Rússia.

10 - As tropas russas aumentam o ritmo da ofensiva no noroeste de Bakhmut, após terem conquistado a parte oriental da cidade, enquanto Kiev reforça posições no oeste para defender vias vitais para a sua sobrevivência.

12 - Mais de mil militares russos morreram e pelo menos 1.500 ficaram gravemente feridos nos combates da última semana na cidade ucraniana de Bakhmut, segundo o Presidente da Ucrânia. Posteriormente, Zelensky garantiu que não ia deixar cidade, ao contrário de conselhos de aliados que insistem em criar reservas para uma contraofensiva na primavera.

Leia Também: Batalha de Bakhmut dura há sete meses num impasse com milhares de mortos

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