O projeto de resolução reuniu três votos a favor, zero contra e 12 abstenções, falhando em reunir o número necessário de apoio para a sua aprovação.
Rússia, China e Brasil foram os países que votaram a favor do projeto de resolução.
Na ausência de veto de um membro permanente, um projeto de resolução sobre questões não processuais requer nove votos a favor para ser adotado, pelo que a Rússia falhou em conseguir o apoio requerido.
A proposta russa - co-patrocinada pela China, Bielorrússia, Venezuela, Coreia do Norte, Nicarágua, Síria e Eritreia - confiava ao secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, a criação de uma comissão de peritos internacionais para analisar o sucedido e identificar os responsáveis pelo ataque e os seus cúmplices.
Na reunião de hoje, a maioria dos países condenou os ataques aos gasodutos, mas justificou a abstenção com o facto de já existirem três outras investigações em curso, nomeadamente por parte da Alemanha, Suécia e Dinamarca, e defenderam que uma investigação da ONU poderá ser levada a cabo quando as averiguações nacionais forem concluídas.
Contudo, o embaixador russo junto à ONU, Vasily Nebenzya, disse ter "sérias dúvidas quanto à objetividade e transparência das investigações nacionais conduzidas por alguns Estados europeus" e voltou a acusar os Estados Unidos de tentar ocultar a verdade dos factos.
Segundo o representante russo, esses processos de investigação podem durar anos, reforçando as suas suspeitas de que "estão a ser feitos esforços não para esclarecer o que aconteceu, mas para ocultar provas e limpar a cena do crime".
"Acho que depois da votação de hoje, a suspeita sobre quem está por trás do ato de sabotagem no Nord Stream é óbvia. Aos olhos do mundo inteiro, os Estados Unidos e seus aliados têm feito tudo o que podem para garantir que não haja investigação internacional sobre o que aconteceu", disse Nebenzya.
Já os Estados Unidos voltaram a rejeitar as "acusações infundadas da Rússia".
"Os Estados Unidos não se envolveram de forma alguma, ponto final. (...) No entanto, sejamos claros: esta foi uma tentativa de desacreditar o trabalho das investigações nacionais em curso e prejudicar quaisquer conclusões a que cheguem que não correspondam à narrativa predeterminada pela Rússia. Não foi uma tentativa de procurar a verdade", alegou o diplomata norte-americano Robert Wood.
"É difícil aceitar a postura da Rússia de que procura apenas uma investigação imparcial e independente. Que fique claro, para registo, que o primeiro rascunho da resolução apresentado pela Rússia claramente implicava os Estados Unidos, com base em descaracterizações de declarações feitas por autoridades norte-americanas", acrescentou Wood.
Por outro lado, o Brasil justificou o seu voto a favor com a necessidade de a ONU realizar esforços adicionais para esclarecer os ataques aos gasodutos.
"O Brasil envolveu-se com as negociações desde o início e tentou criar um consenso. (...) Tudo indica que se trata de um ato de sabotagem, mas ainda não sabemos o que a causou. (...) O voto do Brasil não deve ser visto como uma critica à conduta das investigações em curso ou um sinal de desconfiança, mas como reconhecimento da importância de esforços adicionais por parte da ONU", disse Ronaldo Costa Filho.
O diplomata brasileiro pediu ainda que as conclusões das investigações em curso sejam partilhadas com o Conselho de Segurança o mais rápido possível.
Os ataques aos gasodutos Nord Stream, que não estavam em serviço no momento do incidente, ocorreram em 26 de setembro de 2022 e provocaram duas fugas em cada um deles: duas na zona dinamarquesa e duas na zona sueca, todas em águas internacionais.
Os embaixadores da Dinamarca, Suécia e Alemanha - países que se encontram a investigar as explosões - indicaram que as suas investigações estabeleceram que os gasodutos foram amplamente danificados "por poderosas explosões devido a sabotagem".
Nas últimas semanas, vários relatos da imprensa norte-americana e alemã apontaram um grupo pró-ucraniano como o suposto autor da sabotagem.
Kiev, por sua vez, negou qualquer responsabilidade pelos ataques.
No momento da sabotagem, Moscovo acusou os países "anglo-saxónicos", aludindo à oposição ao projeto que Washington mantém há anos -porque supostamente gera dependência europeia do gás russo-, enquanto alguns países ocidentais apontaram na direção oposta.
[Notícia atualizada às 22h11]
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