A LND, que ganhou por uma larga margem as eleições legislativas no país em 2015 e 2020, "verá o seu estatuto de partido político automaticamente anulado" a partir de quarta-feira, por não cumprir as condições para se inscrever novamente, segundo a MRTV.
Myanmar encontra-se mergulhado no caos desde que os militares derrubaram, em fevereiro de 2021, o Governo civil de Aung San Suu Kyi, prémio Nobel da Paz 1991, com base em acusações contestadas de fraude eleitoral.
Desde então que a junta militar no poder promete que vai realizar eleições nacionais, mas depois de inicialmente querer marcá-las para antes de agosto desse ano, invocou razões de segurança e de logística para adiar o escrutínio, num país assolado por um violento conflito civil que em parte escapa ao seu controlo.
Segundo uma organização local, mais de 3.100 pessoas foram mortas no âmbito da repressão militar da dissidência desde o golpe de Estado.
Mais de um milhão de pessoas se encontram deslocadas por causa dos combates, de acordo com a ONU.
Em dezembro, a junta condenou a ex-chefe do Governo a 33 anos de prisão, a culminar um julgamento sumário que os grupos de defesa dos direitos humanos classificaram como uma farsa.
Mas ainda antes disso, quando Aung San Suu Kyi estava no poder, em 2017, o exército de Myanmar iniciou uma perseguição à minoria étnica muçulmana rohingya, no âmbito de uma operação que a ONU classificou como "limpeza étnica com conotações de genocídio".
Desde 2017, cerca de 774.000 rohingyas fugiram de Myanmar para o vizinho Bangladesh, o país mais pobre do mundo, e esse número não parou de aumentar desde então, até alcançar os atuais 925.000 refugiados.
Esta perseguição aos rohingyas manchou de tal forma a reputação internacional de Suu Kyi, de símbolo da luta pela liberdade e pela democracia no seu país, que houve algumas instituições internacionais que a tinham distinguido com prémios e condecorações e lhos retiraram.
Foi o caso do Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento, destinado a homenagear pessoas ou organizações que dedicaram as suas vidas à defesa dos direitos humanos e da liberdade.
O galardão foi atribuído a Suu Kyi em 1990 pelo Parlamento Europeu e foi-lhe retirado 30 anos depois, em 2020, por aquele órgão da União Europeia considerar que ela já não representava os valores que lhe subjazem, acusando-a de "inércia em relação aos crimes cometidos contra os rohingyas".
Tratou-se da primeira vez que uma figura pública internacional foi excluída da "comunidade" dos vencedores do Prémio Sakharov.
Em contraste, o comité norueguês que lhe atribuiu em 1991 o prémio Nobel da Paz não seguiu as passadas do Parlamento Europeu, mantendo Aung San Suu Kyi na lista dos seus laureados.
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